segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Democracia, volver


Soa exagerado interpretar a vitória de Miguel Piñera no Chile como sinal de reação conservadora na América Latina. O equívoco é repetido por apologistas de direita e de esquerda. Os primeiros gostam de trombetear vingança, criando um paralelo com José Serra nas eleições brasileiras; os demais pensam em forças malévolas, necessariamente retrógradas e autoritárias.

Não existe essa onda conservadora no continente. A recente vitória de Pepe Mujica no Uruguai equivaleu, em proporções muito menores, à de Lula no Brasil. E restam ainda Lugo, Morales, Chávez.

“Esquerda”, “centro” e “direita” são simplificações úteis em noticiários e discursos partidários, mas neutralizam uma diversidade humana cada vez mais decisiva num ambiente institucional dominado pelo pragmatismo. Isso vale, especificamente, para o Chile: até que ponto o governo de Michelle Bachelet pode ser rotulado como “de esquerda”? E o que dizer do moderadíssimo ex-presidente Eduardo Frei? Empresários são inevitáveis crápulas políticos?

A alternância democrática é marcada justamente pelo revezamento cíclico de forças políticas divergentes. Projetos eleitorais se esgotam, pessoas cansam, plataformas caducam. A derrota de candidatos com discursos progressistas, especialmente os que deixam o poder, pode significar a possibilidade de aprender com a experiência administrativa e construir novos consensos.

Tudo depende do contexto político-partidário. Em certas circunstâncias, a renovação é necessária e louvável, mas em outras é apenas aparente. No caso brasileiro, uma vitória de Serra poderia realmente significar um retrocesso histórico do qual demoraríamos décadas para nos recuperar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Com a vitória de Serra , perderiamos a capacidade de fazer alianças com as forças políticas em geral .
Essa maneira de governar do Lula , seria deixada de lado com muita facilidade e não veremos a consolidação das conquistas que se obtiveram .

Paulinho disse...

Prezado Guilherme,

Só nos causa espanto, a alegria com que Globo, Estadão, Folha e Veja, deram essa notícia.

Como se, o que aconteceu no Chile, é líquido e certo que acontecerá aqui no Brasil.

Os caras sequer fazem questão analizarem as situações políticas, diversas entre os dois países!

Mas parabéns,sua matéria está super pertinente e esclarecedora.

Esdras disse...

Ótima análise, Guilherme.