quinta-feira, 13 de maio de 2010

A ficha é suja


Resisto a apoiar a tal Ficha Limpa e discretamente comemoro sua formatação definitiva, que a encaminha para o limbo jurídico. Ela proporcionaria um recrudescimento da já alarmante putrefação institucional do Judiciário.

Qualquer juiz obscuro, das menores e mais remotas comarcas, poderia destruir projetos políticos legítimos. Lideranças regionais seriam perseguidas e arruinadas. Basta contrariar os interesses do empresariado, da mídia, das boas famílias ou, afinal, dos próprios “doutores” togados, e sua vida virará um inferno.

Dêem-me cinqüenta mangos e lhes devolvo uma boa condenação por corrupção de menor, assédio moral, irregularidades trabalhistas diversas, etc. A exigência do colegiado apenas encarece o esquema; e, pior, o generaliza.

Uma reforma política de verdade suplantaria todos esses arremedos moralistas. Mas, sendo impossível aprová-la sem uma Assembléia exclusiva, os benfeitores do Congresso agradam o distinto eleitor com paliativos e indignações entorpecentes.

3 comentários:

Anônimo disse...

Há uma grande diferença entre os guerreiros sujos de sangue e os paus de galinheiro.
Vamos acabar votando em branco pela aparência de limpidez.

Anônimo disse...

Caro Guilherme,
Primeiramente, parabéns pela coragem de assumir uma posição nesse debate, que é tratorado de forma populista, levando muita gente de bem a apoiar a supressão do processo eleitoral dos "fichas-sujas", ou pelo menos não rejeitá-lo, por puro medo de ser interpretado pela opinião pública como um conivente com o crime.
A questão fundamental é a seguinte: as Constituição de 88 criou um monstro jurídico que é a possibilidade de promotores abrirem um processo contra uma pessoa a partir de uma denúncia anônima, seja ela de boa ou má-fé. Isso mesmo, qualquer pessoa pode encaminhar secretamente a um promotor (e picaretas há de sobra nessa área, apesar da maioria de homens e mulheres sérios!) e este, com base nessa frágil denúncia, pode arruinar a vida de uma pessoa de bem. E, o que é pior, caso, depois de anos ou décadas, o incriminado consiga provar sua inocência, não terá nem o direito de pedir indenização de seu acusador. Nesse caso, teria que processar o Estado, e a ação será concluída quando estiver já sete palmos debaixo da terra.
Ou seja, as nossas leis permissivas permitem que até um anônimo possa "sujar a ficha" de um homem de bem, então há um sinal aberto para a irresponsabilidade contra inocentes.
Para piorar, a "lei de imprensa" em vigor dá carta branca para as quadrilhas editoriais que povoam as maiores redações do país para levar adiante, impunemente, qualquer linchamento público.
Ou seja, um anônimo denuncia, um promotor picareta encaminha a ação, a imprensa amplifica a injustiça de acordo com suas preferências eleitoreiras e, antes mesmo de um juiz apreciar a questão, teremos um "ficha suja" banido da vida pública. Quantas serão as vítimas dessa manipulação da opinião pública caso essa matéria absurda seja aprovada no Congresso?
Parabéns pela coragem de se manifestar sobre esse assunto.

Almir

Claudio disse...

Caro Guilherme,

Foi a primeira vez que vi alguém contra o ficha limpa, exceto, claro, políticos com a "ficha suja". Estou surpreso, mas entendi seu ponto de vista. Concordo com a necessidade de uma reforma política de verdade, mas continuo apoiando a lei da ficha limpa.