quarta-feira, 3 de outubro de 2018
A pauta do antipetismo só favorece a direita
À medida que se anunciava a polarização entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro no segundo turno, cresceu o volume de ataques a ambos por parte dos adversários. O fenômeno constitui um legítimo apelo das candidaturas preteridas, algo corriqueiro nestas circunstâncias. Mas não deixa de ser curioso que bases ideológicas diversas gerem discursos tão parecidos.
Esse eixo discursivo comum se articula ao redor do antipetismo. No embalo da rejeição ao antagonista demonizado nos respectivos círculos, campanhas de centro e de direita apostam na imagem negativa do PT como pretexto para o “voto útil”. Uns, tentando afastar o partido da corrida presidencial; outros, apresentando-se como concorrentes mais aptos a vencê-lo.
Não por acaso, a narrativa tem apoio veemente do condomínio midiático empenhado na destruição do lulismo. A tática reside em já transformar o sufrágio numa espécie de plebiscito sobre o PT, generalizando o tema, impondo-o às demais candidaturas e empobrecendo, pela partidarização, as pautas abrangentes que mobilizam a sociedade.
A manobra possui três objetivos imediatos. Primeiro, sedimentar o antipetismo enquanto ele ainda não foi monopolizado pelas bravatas repulsivas de Bolsonaro. Segundo, impedir que o Regime de Exceção fique associado ao fascista que certamente o defenderá. Por fim, neutralizar a previsível derrota simbólica dos movimentos golpistas no teste das urnas.
O fantasma do país conflagrado ameniza esses perigos. A ideia de evitar que a sucessão se transforme num “abismo” de rancores estigmatiza o combate legítimo contra a prisão política de Lula. Jogar Bolsonaro na conta do PT alivia a responsabilidade de quem defendeu ou tolerou o impeachment e os arbítrios da Lava Jato, marcos da ascensão reacionária no país.
As pesquisas sepultam os argumentos pseudo-pragmáticos e pacificadores das campanhas que entraram na onda. Bolsonaro aparece como único beneficiado pelo protagonismo deletério do PT. O jogo premonitório de acusações ao partido (elegerá o fascista, será ajudado por ele) produziu apenas uma disputa ainda mais polarizada, odienta e imprevisível.
Tanto a reiteração do antipetismo quanto seu uso como ameaça potencial alimentam uma força mais ampla e perigosa: o espírito antipolítico e autoritário que Bolsonaro representa. Nasce aí a própria ideia de que o ódio ao PT justifica o voto num fascista ou a anulação que o favorece. E não é outra a origem da agressividade obtusa de quem iguala os concorrentes.
Não se trata de subestimar a numerosa rejeição ao PT, mas de questionar os interesses ligados à mobilização desse repertório subjetivo. Só assim o campo progressista retomará o controle da agenda plebiscitária do segundo turno, pautando-o pelas questões programáticas, libertárias e republicanas que a direita busca abafar com o ressentimento e o moralismo tosco.
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Um comentário:
Não seria problema favorecer a direita. Mas favorecer ESSA direita é de doer. Acho que nunca tivermos uma direita digna do nome. Aqui, ela é raivosa, golpista e anti-povo.
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