Quem teve o ambíguo prazer de passar pelos centros
de compra às vésperas do Natal deparou com um movimento que beirava o
intransitável. Não importa a natureza da oferta ou o poder aquisitivo do
público: foi impossível imaginar mais carros nos estacionamentos abarrotados,
mais gente nas ruas, nos corredores e nos balcões.
Eis, porém, que a imprensa corporativa aparece com
balanços pessimistas das vendas, contrariando a mais rudimentar evidência
empírica. Surpreso, já imaginando que aquelas multidões estavam apenas
comprando sorvete ou passeando, o curioso lê as matérias com um pouco mais de atenção.
E assim descobre que os levantamentos são falhos e parciais, baseados em
recortes selecionados para criar a manchete negativa.
Não se trata de louvar o consumismo desenfreado,
nem de ignorar as conseqüências do endividamento que muitas vezes o acompanha. Mas,
se essas “reportagens” querem fazer das compras natalinas um termômetro da
economia nacional, o resultado deveria ser otimista. Especialmente se levarmos em conta o desemprego que derrubou os mesmos índices em países europeus, por
exemplo.
Tampouco devemos aceitar que tudo não passa de simples
erro de apuração, licença subjetivista ou reprodução direta de fontes
equivocadas. É mentira mesmo. Engendrada para satisfazer as previsões dos catastrofistas geniais que passaram o ano politizando o noticiário econômico
dos grandes veículos.
Há, sim, uma crise de proporções inéditas. E sua
principal vítima é o jornalismo brasileiro.