John
Scofield Trio.
sábado, 31 de maio de 2014
sexta-feira, 30 de maio de 2014
quarta-feira, 28 de maio de 2014
Chantagens e chantagens
Há quem procure justificar a ocorrência de
protestos de cunho social às vésperas da Copa do Mundo ou no seu transcurso. Não
seria chantagem, mas senso de oportunidade.
Acho que esse raciocínio depende de algumas
ponderações morais e práticas sobre a proporcionalidade dos esforços frente aos
objetivos alcançados, os efeitos colaterais das decisões, o alicerce legal, a
legitimidade política, etc. A adesão incondicional à idéia de que os fins
justificam os meios produz muitas armadilhas para os incautos.
A paralisação dos motoristas de ônibus em São
Paulo é exemplar. Se endossarmos o pragmatismo oportunista de qualquer
manifestação, precisaremos aceitar também esse transtorno ilegal, provocado por
facções rivais de sindicatos, com aparência de locaute (pressão empresarial
para aumentar as tarifas) e suspeitas de simples bandidagem, que as autoridades policiais só toleram porque são usadas num jogo político-eleitoral.
Não bastam apenas estratégias eficazes: elas
precisam ser reconhecidamente as mais adequadas (ou as únicas disponíveis) nas
circunstâncias. Há muitas formas de pressionar os empresários sem causar
prejuízos incalculáveis a milhões de cidadãos. Liberar catracas, por exemplo,
ou impedir a entrada e a saída dos administradores nas sedes dos gabinetes e
das companhias. Mas, claro, quando verdadeiramente atingidos, os patrões chamam
a polícia e tudo acaba rapidinho.
A verdade incontornável que os apologistas da moda protestante ignoram é que existem limites éticos e legais para o exercício dos
soberanos direitos à greve e à manifestação pública. Aplaudir uma dúzia de
gatos pingados fechando a avenida Paulista por qualquer causa obscura serve
como incentivo para a desmoralização das verdadeiras lutas sociais. Depois,
quando populares começarem a sair no tapa com os grevistas, vão reclamar do “conservadorismo”
do brasileiro.
segunda-feira, 26 de maio de 2014
A tumba dos pedágios paulistas
O pedido da CPI dos Pedágios esperou três anos na
fila da Assembléia Legislativa de São Paulo. O governo Geraldo Alckmin e seus
asseclas recorreram às mais ridículas manobras para postergar a votação. Agora passou.
Vai dar em nada? Provavelmente.
Primeiro porque o objetivo da comissão se
restringe a “investigar se os valores das tarifas cobrados pelas
concessionárias nas rodovias paulistas estão em consonância com os critérios
definidos nos editais de licitação, propostas e contratos firmados e com a lei
federal que rege as concessões de obras e serviços públicos”.
Ora, até eu, que sou bobo, redijo “editais,
propostas e contratos” permitindo a cobrança de qualquer valor, por mais
abusivo que seja. Houve real concorrência nos leilões? Os valores cobrados são
justificáveis? As concessionárias têm participação nas empresas que lhes fornecem
matérias-primas e serviços? Como eles são contratados? As verdadeiras perguntas
sobre o tema escapam à abrangência um tanto simplória da CPI.
O segundo motivo para pessimismo advém da presença
maciça de tucanos e aliados na composição da mesa. O presidente da comissão é,
pasmem, Bruno Covas. Que só foi eleito ao cargo porque a maioria dos deputados
pertence à base governista. Nessas condições é quase impossível se aprovar um
relatório digno.
Terceiro: a CPI tende a se transformar numa
espécie de segredo midiático. Ao contrário do que ocorre, por exemplo, com o
factóide Pasadena, a imprensa corporativa não gastará o menor perdigoto para
divulgar os trabalhos, principalmente ao longo da Copa do Mundo, que deverá
interrompê-los. O recente esforço da Folha de São Paulo em caracterizar a
administração Alckmin como vítima das concessionárias anuncia o viés futuro do
noticiário. Na pior das hipóteses, tudo será culpa de Cláudio Lembo.
Um bom começo para averiguação, aliás, é essa
jogada marqueteira do governo, “cobrando” valores pagos indevidamente aos
cartéis da dinheirama. Vinte anos depois de iniciada a farra, sob longo e
insistente clamor público, só agora Alckmin decidiu vestir a fantasia de
justiceiro. Mas de onde o governo retirou a convicção de que existe algo errado
nos contratos, se os trabalhos da CPI sequer foram iniciados? E por que não agiram
antes?
Se os nobres deputados conseguirem responder a
essas duas singelas perguntas, já não teremos o desperdício total de mais uma
oportunidade para derrubar o esquema dos pedágios mais caros do país. E tem
cara de ser a última.
sábado, 24 de maio de 2014
sexta-feira, 23 de maio de 2014
“Godzilla”
Tudo é tão estapafúrdio que quase ignoramos a
sensacional trilha sonora composta por Alexandre Desplat. Podemos fechar os
olhos na sala.
Há os efeitos impressionantes e os... bem, os efeitos
impressionantes. A presença nobre de Desplat reflete o surpreendente prestígio
do jovem diretor britânico Gareth Edwards, que pôde reunir o ótimo fotógrafo Seamus McGarvey e um elenco secundário de grandes estrelas em papéis menores. Meio constrangedor
ver a diva Juliette Binoche e Brian Cranston (de peruca?) expurgando lágrimas
num filme de monstro radioativo.
Apenas o recurso técnico e a música tornam a
produção mais interessante do que, por exemplo, “Alien vs Predador”. Neste pelo
menos não há chororô familiar e apologia do exército estadunidense.
quarta-feira, 21 de maio de 2014
O “Secão” de Alckmin é administrativo
Os sociólogos Edson Aparecido da Silva e Ricardo
Guterman publicaram um artigo na edição de março do Le Monde Diplomatique Brasil intitulado “A falta de água em São Paulo”. Eis um trecho:
“Os atuais problemas relacionados ao abastecimento
de água da RMSP [Região Metropolitana de São Paulo] não se restringem à alta do
consumo em razão das elevadas temperaturas e à falta de chuvas. Há graves
problemas estruturais que não foram e não estão sendo enfrentados por omissão da Sabesp e do governo do estado”.
Os autores apontam principalmente para o
desperdício contínuo de água na passagem entre os reservatórios da
concessionária. Mais de trinta por cento do volume transportado é perdido por
falta de equipamentos corretos. Outros motivos são o baixo índice de tratamento
dos esgotos, “a carência de investimentos na busca de novas fontes de
abastecimento e a ausência de planos de contingência para atendimento da demanda
em situação de crise”.
Claro, se fosse uma empresa dirigida pelo governo federal a mídia corporativa não falaria de outra coisa.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
O discurso do medo
A mídia tucana alimenta a ilusão de que o país
vive uma crise econômica similar à da Europa. Distorce estatísticas e bases comparativas para incutir no público a certeza de que os índices sociais decaíram. Omite ações positivas do governo federal e lhe transfere equívocos de
gestões regionais e até de empresas privadas, forjando uma imagem de
incompetência administrativa em torno de Dilma Rousseff. Ainda incentiva os protestos de rua, quaisquer protestos, usando-os como evidências de uma
instabilidade generalizada que teria transformado o Brasil no caos permanente.
E agora é o PT que explora o discurso do medo.
Não podemos pensar a nova propaganda televisiva do
partido sem considerar esse ambiente de manipulação e hipocrisia. As avaliações críticas são razoáveis ao detectar no comercial certo excesso de amargura, o
tom apelativo, a falta de propostas e de incentivo à participação da
militância. Ora, é exatamente isso que a oposição vem fazendo há meses,
naturalizando (fazendo parecer espontâneo) um clima de pessimismo que não tem
nada a ver com fatos, raciocínios ou debates construtivos.
O filme criado pelo publicitário João Santana
parece-me correto porque retira dos adversários a primazia sobre a estratégia
negativa. Devolve a chantagem contra os chantagistas, trata como fantasmas
aqueles que teimam em fabricar assombrações. Parte para cima. No jargão da
luta, aproveita a desatenção do oponente, enfia-lhe um gancho, sai das cordas e
recomeça o combate.
O contra-ataque veio em momento oportuno,
lembrando a todos que o petismo guarda um bom repertório de imagens aterrorizantes, caso decidam levar a campanha nessa toada. Talvez a previsível repercussão
do filme nas pesquisas aplaque os ânimos da disputa eleitoral, dando-lhe um
caráter mais civilizado. Mas não podemos descartar a hipótese de essa
alternativa ser repudiada pelas campanhas oposicionistas, acostumadas ao
“quanto pior melhor”. Em ambas as situações, Santana precisará saber o momento
certo para mudar de tática.
sábado, 17 de maio de 2014
sexta-feira, 16 de maio de 2014
“Eu, mamãe e os meninos”
Escrito, dirigido e protagonizado (em dois papéis)
por Guillaume Gallienne, ator de extensa carreira no cinema francês. Recebeu
vários prêmios no último César, inclusive um merecidíssimo para interpretação.
Autobiográfico, o projeto carrega uma carga
emotiva que a aparência cômica não consegue disfarçar. Por isso parece um
tanto estranho, entre melancólico e divertido, o que lhe confere peso e
interesse. No extremo satírico, há pelo menos uma seqüência (a dos consultórios
de psicólogos) absolutamente hilariante. Em outros momentos o enredo mexe com escatologias
e caricaturas, perdendo força.
De qualquer forma, o conjunto é bastante superior ao
padrão das globochanchadas que enfartam o mercado. Possui uma estrutura inusual
(“narrativa dentro da narrativa”) que remete à subjetividade e às limitações do
verossímil. E faz rir mexendo com temas delicados e tratados usualmente em
dramas catárticos.
quarta-feira, 14 de maio de 2014
A culpa de São Pedro
A imprensa paulista comemora a promessa de que não
haverá racionamento de água até a eleição. Assim o governador Geraldo Alckmin
escaparia de uma constrangedora repetição do apagão produzido pela genial
governança do colega FHC.
O “secão” tucano é fruto de má gestão na Sabesp,
gigantesco feudo de apaniguados políticos da direita local, máquina de fazer dinheiro que possui todas as condições técnicas e financeiras de minimizar os
efeitos da escassez de água nos reservatórios. Isso fica óbvio sempre que um
especialista minimamente idôneo se manifesta sobre a falta de políticas
preventivas da empresa. Até o Ministério Público Estadual apontou erros na concessionária (e olha que para o MPE contrariar o governo é sinal de muita
coisa errada).
Claro que a mídia corporativa faz de tudo para
qualificar o problema como pura falta de chuva. Exatamente o oposto dos factóides alarmistas que inventa quando raios ou ventos (ou sabe-se lá que
fatores menos publicáveis) interrompem a transmissão de energia a cargo do
governo federal.
Mas nada disso chega a surpreender. A máfia do metrô é um problema de corrupção restrito a funcionários das empresas do
cartel. A explosão da violência e os disparates policiais são causados pelo
Ministério da Justiça. O sucateamento da educação estadual e a decadência da
USP nasceram com o Enem. O colapso dos postos de saúde veio do programa Mais
Médicos. Os pedágios são exorbitantes porque usamos carros demais.
Alckmin é um péssimo administrador por causa da
umidade relativa do ar.
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Marco zero
Publicado no Observatório da Imprensa
O Marco Regulatório das
Comunicações ocupa espaço privilegiado nos debates da esquerda brasileira. Entre
seus ativos defensores, além da blogosfera mobilizada, há o
ex-ministro Franklin Martins (que tanta falta fez ao governo Dilma Rousseff) e várias
entidades ligadas ao setor, reunidas numa Frente Parlamentar que aglutina
os resultados das consultas públicas realizadas nos últimos anos. Alheio às
pressões, contudo, o Planalto esquiva-se do projeto e não parece disposto a
abraçá-lo no curto prazo. Menos ainda no contexto político-eleitoral de 2014.
Um dos grandes problemas
originais da iniciativa foi agregar expressões infelizes como “controle social
da mídia”, que apareceram com a mesma ambigüidade tanto nos elogios da
militância progressista quanto nas objeções do conservadorismo organizado. Cada
qual apresentou sua própria noção de “controle”, de “social” e de “mídia”, prejudicando
um conceito que tem pouco ou nada a ver com essa terminologia.
Os adeptos da medida
são unânimes quanto aos malefícios que a justificam. Mas apenas diagnosticá-los
não basta: é necessário elaborar expedientes preventivos ou reparatórios que respeitem
os princípios do Estado democrático de direito e ajudem a consolidar a
miscelânea de normas existentes. Pois, ao contrário do que muitos pensam, a
maioria dos gêneros e subgêneros de abusos identificados com o setor (difamação,
calúnia, preconceito, desdém pela cultura regional, monopólio corporativo, predomínio
do capital estrangeiro, manipulação eleitoral) encontra-se tipificada
legalmente. Falta o Congresso regulamentar os tópicos e dar-lhes base jurídica
incontroversa.
Ao mesmo tempo, o vácuo de legitimidade criado
pela omissão parlamentar gera incertezas sobre os organismos mais apropriados
para a supervisão de atividades tão vastas e complexas. Há séria diferença
entre nomear e eleger os fiscalizadores, entre selecioná-los na estrutura dos
Poderes e em colegiados setoriais, entre preservar a auto-regulação e
atravessá-la com decisões externas. O dilema envolve inúmeras implicações práticas
e termina paralisando o debate sobre a própria natureza dessa tutela.
Existem dificuldades também para elucidar o
alcance da fiscalização. “Mídia”, em tese, abarca uma vastidão de suportes, mas
é sabido que ninguém conseguirá impor limites à internet ou aos periódicos
impressos, ainda que ambos sejam alvos de largo descontentamento. Restariam os veículos
de rádio e TV, concessões públicas sujeitas a variadas contrapartidas. Mas como
proteger a subjetividade no discurso audiovisual, afastando as patrulhas do
“bom-gosto” e da “decência”, que amiúde exibem suas garras autoritárias?
Reposta simples e inevitável: rechaçando qualquer tentativa
de cerceamento das manifestações autorais, opinativas e jornalísticas. Ora, respeitadas
as amplas acepções dessas categorias e descontando a excepcionalidade do
universo publicitário, quase todo material propagado por radiodifusão poderia
resguardar-se através de alegados preceitos constitucionais. Mesmo os produtos
mais discutíveis (do proselitismo religioso ao odiado Big Brother), forçando
a retórica liberal e os gastos dos lobbies legislativos, teriam sobrevida
assegurada. E, convenhamos, é bastante remota a hipótese de certas atrações populares
e rentáveis serem explicitamente proibidas.
Talvez para evitar as dificultosas
particularidades nacionais, alguns militantes recorrem ao elogio de fórmulas estrangeiras,
sem perceber que se distanciam ainda mais de uma solução razoável. Primeiro,
porque superestimam as raízes libertárias do controle midiático em democracias
desenvolvidas, onde o acirramento da pressão às TVs abertas identifica-se
historicamente com a agenda de governos ultraconservadores (o período Bush nos EUA, por exemplo). Em segundo lugar, nem as rigorosas legislações européias
nem a comemorada Ley de Medios argentina foram capazes de impedir a sofrível
qualidade das programações gratuitas nos veículos privados. Ademais, é incoerente
buscar modelos normativos em sociedades que desfrutam de emissoras públicas
poderosas, tradicionais e respeitadas, e de Judiciários dispostos a seguir o
mínimo espírito republicano nas suas demandas.
Em suma, o nosso Marco Regulatório, apesar da
verborragia que caracteriza reivindicações do tipo, envolve “apenas” alguns dispositivos
para inclusão de conteúdo setorizado, o combate ao abuso de poder empresarial
nas concessões públicas e, na melhor das hipóteses, o seu controle pelos
parlamentares. Parece muito, mas, ao cabo de todas as ressalvas e adaptações técnicas,
o resultado não ficará muito distante do modelo atual. Podemos adivinhar a
avalanche de sócios fantasmas, empresas de fachada e programações canhestras
que virá remendar as necessidades dos infratores.
De qualquer modo, no árduo cotidiano das ações
judiciais, os esforços punitivos serão barrados pela proverbial resistência das
cortes, com os diversos subterfúgios que a caracterizam. Assim, uma dolorosa
maioria dos vícios midiáticos repudiados pela esquerda permanecerá intocada,
simplesmente porque jamais haverá suporte legal, respaldo popular ou vontade
política para extingui-los. É aconselhável, portanto, discutir o projeto com
base nas dimensões que a realidade cedo ou tarde imporá.
Antes que as expectativas desmoronem e o movimento
perca o salutar ímpeto inicial, talvez fosse mais eficaz redefinir suas
prioridades. Pois há algo de assombroso no fato de que, em pleno combate pela
democratização da mídia, ninguém sugira alternativas progressistas, fora do
difuso espectro virtual, que possam romper o monopólio informativo das grandes
corporações. Se a militância está preocupada com os suportes tradicionais, não
seria razoável articular a criação de um jornal diário ou um canal de televisão
com abrangência e níveis editoriais suficientes para contrapor os veículos hegemônicos?
Um pouco de espírito propositivo e empreendedor
agregaria novas perspectivas a essa causa meio ingrata, que se arrisca a
terminar seus dias lutando para deixar as coisas como estão.
sábado, 10 de maio de 2014
sexta-feira, 9 de maio de 2014
“A Caça”
Interpretação deslumbrante de Mads Mikkelsen, premiado em Cannes. Thomas Vinterberg, seguidor de Lars
von Trier no movimento Dogma 95, volta à investigação dramática da miséria
humana, com a câmera trepidante e a aparência documental que marcaram seus
primeiros trabalhos. A ótima fotografia de Charlotte Bruus Christensen merece crédito
por isso.
O filme já seria relevante por suas muitas qualidades.
Mas ganha importância especial num momento em que selvagens lincham pessoas na
rua e a Escola Base é lembrada como “acidente de percurso” do jornalismo
brasileiro. Experiência assustadora e angustiante, sim, mas obrigatória.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
O escândalo é o escândalo
Vinte anos depois de ter a vida arruinada pela
imprensa paulista, um dos proprietários da Escola Base acaba de falecer. Quase
na mesma época, à saída de Suzana Singer do cargo de ombudsman da Folha de São Paulo, ficamos sabendo que ela foi a
responsável pela nefasta cobertura jornalística do caso no veículo.
Não tenho qualquer possibilidade, tampouco o
anseio, de julgar as aptidões éticas e profissionais da jornalista. Mas sempre achei
sua passagem pelo importante posto de “ouvidoria” um tanto desapontadora, tendo
em vista a conivência que demonstrou amiúde com a tendenciosa cobertura que o
veículo fez do julgamento da Ação Penal 470.
Tudo ganhou um aspecto muito negativo, porém, com
a lembrança de sua participação no caso Escola Base, e ainda através de uma coluna fundada na explicação do erro. Fica a impressão de que os
editores-chefes do jornal escolheram um quadro, digamos, “inofensivo” para a
função, numa época particularmente atribulada do noticiário político brasileiro.
É impossível não suspeitar que as mentiras sobre o chamado “mensalão” tiveram
uma acolhida mais generosa do que teriam com outros funcionários de reputação
absolutamente ilibada.
Não se trata de supervalorizar uma figura meio propagandística e decorativa que jamais conseguiu impedir, nem mesmo expor, as batatadas históricas
da Folha. A questão é o modelo de transparência e de verdadeira autocrítica que
o diário está disposto a seguir.
A escolha inicial de Singer, independente de suas
qualidades pessoais, foi moralmente questionável, para dizer o mínimo. Que ela
depois (e só no final do mandato) justifique a cobertura do episódio Escola
Base como um escorregão próprio do ramo evidencia o legado que a tragédia das
vítimas deixou ao jornalismo brasileiro: uma noção bastante cômoda e
apaziguadora da palavra “escândalo”.
terça-feira, 6 de maio de 2014
O nome das coisas
As emissoras da rede Globo, rádio e televisão,
boicotam os patrocinadores do esporte brasileiro. Os times financiados por
empresas são reduzidos aos nomes das suas cidades e às vezes as transmissões de
entrevistas apagam os logotipos do material de divulgação que elas ostentam. O
interesse econômico dos veículos e de seus anunciantes prejudica investimentos
milionários que ajudam a garantir a excelência de campeonatos locais em
modalidades como o vôlei, o basquete e mesmo o privilegiado futebol.
É o cúmulo do abuso e da manipulação. Não basta a
maior corporação midiática do país privatizar bens coletivos de interesse
social, impondo horários e regulamentos para aumentar seus lucros. Agora ela se
dá ao direito de mudar a alcunha de competidores, de locais e até de eventos
para resguardar um modelo de negócio baseado justamente na exposição de marcas
privadas.
A Globo pratica sabotagem institucional contra aqueles
que não aceitam pagá-la. Transforma um trabalho de natureza jornalística em espetáculo
de marketing dirigido. Uma empresa de comunicação que se diz informativa não
presta favor algum quando transmite um acontecimento relevante, menos ainda
quando já recebe fartos dividendos para isso. Esconder a identidade das pessoas
e das empresas é deturpação de fatos, não tem nada a ver com “decisão
editorial” de qualquer tipo justificável.
A prática é adotada por veículos impressos, como a
Folha de São Paulo. Embora ali também se revele a mediocrização de uma suposta
autonomia jornalística, contudo, podemos até aceitar a frouxa tese de que o
periodismo impresso funciona segundo suas próprias regras. Algo muito diferente
ocorre nas concessões públicas. O mínimo que se pode esperar delas é chamar as
coisas pelos seus nomes verdadeiros.
sábado, 3 de maio de 2014
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