Há quem procure justificar a ocorrência de
protestos de cunho social às vésperas da Copa do Mundo ou no seu transcurso. Não
seria chantagem, mas senso de oportunidade.
Acho que esse raciocínio depende de algumas
ponderações morais e práticas sobre a proporcionalidade dos esforços frente aos
objetivos alcançados, os efeitos colaterais das decisões, o alicerce legal, a
legitimidade política, etc. A adesão incondicional à idéia de que os fins
justificam os meios produz muitas armadilhas para os incautos.
A paralisação dos motoristas de ônibus em São
Paulo é exemplar. Se endossarmos o pragmatismo oportunista de qualquer
manifestação, precisaremos aceitar também esse transtorno ilegal, provocado por
facções rivais de sindicatos, com aparência de locaute (pressão empresarial
para aumentar as tarifas) e suspeitas de simples bandidagem, que as autoridades policiais só toleram porque são usadas num jogo político-eleitoral.
Não bastam apenas estratégias eficazes: elas
precisam ser reconhecidamente as mais adequadas (ou as únicas disponíveis) nas
circunstâncias. Há muitas formas de pressionar os empresários sem causar
prejuízos incalculáveis a milhões de cidadãos. Liberar catracas, por exemplo,
ou impedir a entrada e a saída dos administradores nas sedes dos gabinetes e
das companhias. Mas, claro, quando verdadeiramente atingidos, os patrões chamam
a polícia e tudo acaba rapidinho.
A verdade incontornável que os apologistas da moda protestante ignoram é que existem limites éticos e legais para o exercício dos
soberanos direitos à greve e à manifestação pública. Aplaudir uma dúzia de
gatos pingados fechando a avenida Paulista por qualquer causa obscura serve
como incentivo para a desmoralização das verdadeiras lutas sociais. Depois,
quando populares começarem a sair no tapa com os grevistas, vão reclamar do “conservadorismo”
do brasileiro.
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