segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O cinema, o cigarro e a liberdade



Por André Setaro

"1) A lei que proíbe o fumo em lugares públicos fechados tem um teor fascista e está a fazer do fumante um marginal, um coitado, um ser indesejado nos recintos. Um indesejado das gentes, como poderia dizer, na sua época, Machado de Assis. Não se quer aqui fazer a apologia do fumo, pois não é disso que se trata, considerando que o cigarro faz mal a saúde. É mais uma questão cultural. Há, por outro lado, uma campanha tão insidiosa contra o fumo que as pessoas, lavadas cerebralmente, olham para o fumante de soslaio e de esguelha. Quem tem mais de 40 anos foi criado numa sociedade que tinha o cigarro como fator de charme. Era chique se fumar. As mulheres portavam uma cigarrilha dourada, folheada a ouro, com os cigarros dispostos em fila, dentro, como soldados numa parada militar. Adquirido o vício na época em que ele reinava, o fumante, que não conseguiu largar, tem todo o direito de fumar sem que seja constantemente censurado - até o dia em que acabe sendo mesmo apedrejado nos lugares.

2) Mas também aqueles que não fumam possuem o direito de não serem incomodados pela fumaça dos cigarros. A solução anterior era perfeita: separar os ambientes para aqueles que fumam e os ambientes para aqueles que não fumam. Mas foi preciso encontrar um inimigo. E o inimigo encontrado foi o fumo. E os gazes dos automóveis que engarrafam as principais cidades brasileiras? E os agrotóxicos dos legumes? O gado clonado e servido como legítimo streek?

3) O que se pretende clamar, aqui, é pela liberdade do homem, pela liberdade de se fazer o que quiser, desde que os direitos dos outros não sejam atingidos. A lei antifumo penaliza o fumante, retirando-o do convívio social. Muitos dos que fumam, fazem-no por vício e não por um exercício lúdico. Alguns conseguem se ver livre do cigarro, outros não conseguem nem sequer escrever ou raciocinar sem o companheiro amigo de todas as horas. Este escrevinhador, indo, ano passado, a Belo Horizonte, fez um voo de conexão, e ficou algumas horas no Galeão (Rio). Havia (não se sabe se ainda há), um fumódromo, que mais se assemelhava a um quiosque, redondo e com um estribo circular. Para esperar o voo, ficou a tomar uns chopes e teve vontade de fumar e lá se foi ele para o fumodromo. Subindo no estrado, à sua frente estava um piloto de avião soltando fumaça na direção deste escrevinhador e este em direção a ele. Simplesmente ridículo. Quem fuma gosta de fazê-lo ao escrever, ao bater um papo, ao desenvolver um pensamento, sendo, portanto, o cigarro também um coadjuvante nas horas de prazer e de reflexão. "

Leia o texto completo.

Um comentário:

Retalhos & Devaneios disse...

Concordo! É ridícula essas leis, se realmente houvesse preocupação com a saúde da população não encheriam as ruas de carros e puniriam as empresas que são as maiores responsáveis por nossos problemas de saúde.