sexta-feira, 9 de março de 2012

“O Artista”



Simpática homenagem do francês Michel Hazanavicius ao cinema hollywoodiano, que retribuiu com uma consagração exagerada, inimaginável em outras épocas. Não fica no louvor aos filmes sem diálogos sonoros (mudos não eram), pois utiliza, no rol imenso de citações, muitas imagens apanhadas em clássicos modernos como “Cidadão Kane” e “Cantando na chuva”. Os cinéfilos se deliciam com as incansáveis identificações disponíveis.

Há um paradoxo incômodo nessa profusão de referências. A mistura de linguagens visuais distintas salienta por contraste os momentos em que a narrativa se permite “deslizes” contemporâneos para agradar aos hábitos de percepção das platéias atuais. Ele não mergulha totalmente na época retratada, embora tente ressuscitá-la com truques superficiais (a fotografia em preto – “azulado” – e branco, o formato quase quadrado da imagem, a trilha sonora evocativa e até o enredo simplista). Esse lapso de coerência retira a força do conjunto e dilui um pouco a ousadia original.

Mas é interessante especular sobre os resultados estéticos e mercadológicos de um filme que abraçasse unicamente o repertório cinematográfico das primeiras décadas do século vinte: pareceria inventivo e expressionista demais, insuportável para a ortodoxia realista vigente? Outra reflexão agradável nasce da evocação dos mestres do passado, na perenidade das suas descobertas e nesse caráter intrinsecamente metalingüístico que as aproxima e que de certa forma está presente em toda grande obra artística.

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