Dizem que o livro “Não há dia fácil” derruba a
versão oficial sobre o fuzilamento de Osama Bin Laden. Mas... sério? Alguém de
fato acreditou que os assassinos pagos pelo governo estadunidense queriam levar
o terrorista algemado? Que lhe permitiriam desfrutar do devido procedimento
legal, tomando café de canequinha na pensão de Haia? Ou mesmo sofrendo torturas
no campo de concentração que a civilizada potência mantém perto de Miami?
Elio Gaspari escreveu na Folha que “a missão de
Abbottabad acabou bem”. Acabou, realmente: com os últimos resquícios do Direito
Internacional, das convenções humanitárias e dos princípios que regem qualquer democracia
do planeta. Gaspari faria melhor à própria reputação se guardasse para si as
emoções aventureiras que sentiu ao ler esse novo panfleto apologético dos
bravos cruzados do norte.
Claro que a obra serve de propaganda eleitoral republicana,
minando o maior trunfo bélico da gestão Barack Obama. Mas essa conta deve ser
cobrada também de Hillary Clinton, que patrocinou e comandou a execução de um
homem desarmado, em solo estrangeiro, seguida pela destruição de provas e pelo
sumiço do cadáver. Coisa de chinês comuna malvado.
Para os padrões engabeladores da política externa dos
EUA, porém, a revelação talvez não venha a fazer muita diferença. Se a chacina seduz
até jornalistas deste rincão selvagem, dá para imaginar o que não faz na
própria terra dos caubóis.
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