sexta-feira, 9 de novembro de 2012

“O exercício do poder”



















Vencedor em Cannes e no César do ano passado. Produzido pelos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne (“O silêncio de Lorna”), guarda com a obra deles uma curiosa semelhança de atmosfera, tom e ritmo. E o ator principal, Olivier Gourmet, esteve em quase todos os seus filmes.

A emblemática seqüência de abertura sintetiza os dilemas do protagonista, composição marcante de Gourmet. O excepcional Michel Blanc aparece generosamente contido e delicado, salientando a personalidade peculiar do outro.

O roteiro vence as dificuldades inerentes aos filmes sobre bastidores políticos através de um roteiro enxuto, que não teme assuntos grandiosos (poder, amizade, ética, moral), e do tratamento hiper-realista e desglamurizado. Tudo termina soando verossímil além do paroxismo, como se já não estivéssemos no campo fantasioso, ou como se a consciência da farsa não servisse mais de escape ou consolo, pois imediatamente admitimos que “é assim que as coisas são”.

Filme intrigante, às vezes difícil, que serve como um bom argumento contra esse povo provinciano que elogia o ambiente governamental dos países europeus (ou dos EUA) sem saber que as práticas daqui, tão repudiadas, se repetem por todo o planeta. Mas será uma visão pessimista da realidade política e dos negócios de Estado? Por que deveríamos tomar negativamente o fato de que o pragmatismo domina (também) esse universo? Não seria mais fácil aprimorá-lo se o enxergássemos livre de máscaras idealistas e pruridos farisaicos?

E por aí vai...

Nenhum comentário: