sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

“Django livre”



















 Entre o pastiche e a homenagem, no universo muito particular que elabora desse jogo de referências, Quentin Tarantino desenvolve uma identidade inegável. Talvez o excesso de alusões dilua sua força autoral, mas podemos questionar se ainda existe originalidade algures, ou mesmo se ela é tão importante assim.

O maior atrativo do filme repousa no excelente roteiro, talento diferencial de Tarantino, que no fundo sempre foi um diretor visualmente heterodoxo. Uma ressalva a esse conservadorismo, ou melhor, um jeito muito próprio de exercê-lo, é o apreço por detalhes irrelevantes para a ação, mas que ajudam a ambientar as cenas – por exemplo, os sapatos de couro da atriz em “Bastardos inglórios”, a textura das luvas e a espuma do chope servido no saloon, em “Django”.

O texto mistura lendas medievais alemãs, faroeste barato, escravidão e racismo, ética e amizade, quase sempre bem-sucedido no manejo de um curioso (e arriscado) tom de ironia. Usando absoluta liberdade criativa, ignora licenças históricas para extrair diversão de temas sérios que se mantêm relevantes mesmo num registro farsesco. Outra característica que o assemelha a “Bastardos inglórios” é o protagonista em busca de vendeta, causa que novamente o próprio Tarantino assume para si, insensível à verossimilhança.

Com diálogos impecáveis, dois personagens antológicos (interpretados pelos maravilhosos Christoph Waltz e Samuel L. Jackson), sequências marcantes (pelo menos a da cidade enlameada e a do ataque de encapuzados), boas cenas de ação, primor técnico (fotografia do mestre Robert Richardson) e ótima trilha sonora, está muito acima do ramerrão habitual dos tiroteios hollywoodianos. Inclusive da média vigente no Oscar.

Não vale a pena especular sobre as gritarias politicamente corretas suscitadas pelo filme. Elas nasceram mais como repúdio à figura controversa de Tarantino do que por motivos razoáveis. Ainda que eles existissem, contudo, jamais permitiriam o patrulhamento de uma obra de ficção. Que, aliás, nem precisaria ser tão boa.

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