sexta-feira, 3 de maio de 2013

Bobão
















Meu comentário sobre as besteiras de Lobão é contraditório. Porque acho que elas deveriam ser soberbamente ignoradas. As reações inflamadas, reproduzindo a grosseria intelectual que pretendem combater, apenas repercutem o que não merece a rápida sinapse necessária ao descarte.

Sempre admirei Lobão, um pouco pelas músicas, mas principalmente por sua militância contra o sistema de gravadoras e jabás radiofônicos. E também pela denúncia contra a hipocrisia nefasta da repressão aos usuários de drogas, da qual foi uma vítima célebre. Que o músico personifique a união dessa bandeira progressista com o repertório do antipetismo hidrófobo é evidência de certa esquizofrenia programática amiúde abordada neste espaço.

Óbvio que ele tem sensibilidade e erudição suficientes para saber que suas bravatas são rasteiras, que não suportariam minutos de um debate sério. Mesmo a relevante questão dos incentivos fiscais a artistas consagrados se perde no discurso tosco e simplificador. Talvez Lobão esteja buscando reconstruir a própria figura pública, vestindo um figurino de polemista indignado que satisfaça melhor suas necessidades intelectuais e financeiras. Até que ponto essa é uma postura honesta, ou coerente com sua trajetória profissional, cabe a ele mesmo e a seus fãs descobrirem.

Resta-nos lamentar que se transforme em outro inocente útil desse folclore ultra-reacionário que vem ganhando adeptos nas redes sociais e na mídia corporativa. Mergulhando na estupidez recalcada por um patológico ressentimento de classe, Lobão perde o último tufo de relevância que ainda guardava. Décadence sans élégance, como diria o roqueiro de antanho.

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