sexta-feira, 7 de junho de 2013

“Depois de Maio”


















Olivier Assayas observa a juventude revolucionária que deflagrou o foco estudantil dos protestos que ficaram conhecidos sob a alcunha de Maio de 68. Ou melhor, acompanha os rumos que tomou esse grupo depois das famosas atribulações. E tece especulações sobre os adultos que ele teria gerado.

É uma posição de respeito, quase generosa. Evita julgamentos, porém, equilibrando a nostalgia e a decepção características dos relatos autobiográficos. Os diálogos politizados e as muitas referências iconográficas instigam reflexões sobre cultura, política, sexualidade, utopias contraculturais.

Há citações mais ou menos explícitas da literatura beat, da Nouvelle Vague, das artes plásticas, de episódios históricos marcantes. O plano de certa personagem, recortado em moldura oval e inserido sobre a cena maior, pareceu uma simpática homenagem a François Truffaut. Faz sentido, especialmente se consideramos o que o detalhe sugere acerca da opção estética do próprio Assayas.

A trilha sonora reúne tesouros ocultos do imbatível repertório do período. O fundo musical onírico e a delicada fotografia de Eric Gautier (dos filmes recentes de Fernando Meirelles) formam um conjunto espantosamente harmonioso. Tudo muito bonito, sensual, poético, mesmo nas longas seqüências de ação.

É interessante (e algo inevitável) compará-lo a outras ótimas produções de temática similar, particularmente “Os sonhadores”(Bernardo Bertolucci) e “Amantes constantes” (Phillipe Garrel). Daí sobressai o diferencial dos recortes sociológicos e intelectuais de Assayas, evidenciando sua relevância e sua atualidade.

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