sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Telas em luto


















Philip Seymour Hoffman (1967–2014) tinha uma versatilidade rara nos atores hollywoodianos. Abraçou com igual desenvoltura as produções mais variadas, de comédias despretensiosas até dramalhões pesados, passando pelo arriscado mimetismo das figuras reais. Mas seus melhores momentos são os de personagens ambíguos, aos quais o ator se entregava com energia e coragem inigualáveis: “O Mestre”, principalmente, mas também “Antes que o diabo saiba que você está morto” (com um viés autobiográfico que hoje parece assombroso).














Eduardo Coutinho (1933-2014) foi dos maiores documentaristas da história. Nome à altura de Frederick Wiseman, Albert Maysles, Robert Drew, Jean Rouch, Chris Marker. Superou muitos mestres, porém, ao assimilar procedimentos narrativos das grandes escolas históricas, juntando a observação, a participação, a reflexão e até a performance vanguardista, e mesmo assim desembocando num estilo absolutamente pessoal e insubstituível. Revolucionou a abordagem das entrevistas e chacoalhou os paradigmas do gênero documental, ao romper os limites entre realidade e ficção.

Duas perdas quase simultâneas, parecidas no absurdo, que acabam de esvaziar um pouco o universo do cinema. Ambas nos levam a indagar se a arte está fadada a sucumbir à fragilidade da vida ou se é esta, com todos os seus limites e tormentos, que absorve a grandeza imaterial da primeira. Restam-nos as obras e umas perguntas que elas jamais responderão.

Nenhum comentário: