sexta-feira, 25 de abril de 2014

Dois bons independentes






















“Clube de compra Dallas”

Minha velha antipatia por Matthew McConaughey já havia dissipado na surpreendente série “True Detective”, então agora parece inevitável reconhecer que os muitos prêmios que ele e Jared Leto receberam foram bastante justos. Porque não envolvem apenas a transformação física, em si assombrosa, mas também a construção de personagens difíceis, sob tensão emocional permanente.

As muitas licenças factuais do roteiro não o enfraquecem, por conta da habilidade ao evitar o melodrama que poderia estragá-lo. E é sempre agradável assistir a uma produção de parcos recursos financeiros que atingiu visibilidade global graças à história e ao talento dos envolvidos, apesar do tema incômodo.

Não se deve perder de vista a relevante denúncia contra os lobbies da indústria farmacêutica nos EUA, que possui desdobramentos tão amplos quanto perniciosos.
























“Nebraska”

Bem diverso é o registro de Alexander Payne, voltando ao universo familiar de “Os Descendentes”. Aqui há humor, sutileza, um nítido esforço de contenção destinado a minimizar todas as possibilidades emotivas do enredo.

Bonita fotografia estilizada em preto e branco, cheia de contrastes e planos gerais, que lembra os trabalhos do mestre Robby Müller. A escolha deve muito ao propósito de suavizar a dramaticidade do conjunto visual, mas também revela uma eficaz adequação ao universo dos filmes de estrada, gênero a que “Nebraska” se associa com raro lirismo.

Bruce Dern, que recebeu um merecido prêmio em Cannes, garante a força humana da produção. E também June Squibb, e o sempre ótimo Stacy Keach, que andava sumido. Mas é o elenco de apoio que dá um grau extra de verossimilhança à história, com seus tipos divertidamente simples e comuns.

Uma reflexão sobre o envelhecimento, a memória, as raízes, a amizade. E sobre a credulidade num planeta irrevogavelmente hipócrita.

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