O afastamento definitivo de Joaquim Barbosa
recebeu pouca ou nenhuma atenção dos veículos noticiosos. Satisfeita com o
papel que o ex-presidente do STF cumpriu nos tempos de herói, a grande mídia
prefere esquecê-lo, como se assim neutralizasse o estrago causado por seu
protagonismo. Ledo engano.
Os analistas ficaram chocados com o juiz que acusou
um réu de pertencer à “esquerda caviar”. Faltou dizerem que esse é fenômeno exemplar
da ideologização do Judiciário brasileiro, levada a extremos pelo mesmo Barbosa
que todos louvavam. Não que antes faltassem magistrados fanfarrões, mas em
outros contextos eles tampouco viravam heróis da mitologia conservadora.
Alguém poderia argumentar que se trata de um efeito
colateral da tendência contrária, a judicialização da vida política, simbolizada pela Ficha Limpa e por outras excrescências legais que o moralismo farisaico incentivou.
Mesmo sem negar o peso desse fator, precisamos lembrar que também suas
conseqüências foram agravadas pelo então ministro, quando investiu irresponsavelmente
sobre a vida parlamentar.
A presidência de Barbosa transformou o STF numa espécie
de vanguarda saneadora das instituições nacionais. Soa muito legítimo e
republicano, mas não passa de extrapolação das prerrogativas da corte, reduzida
a um papel efêmero e contraditório que viola sua natureza. A memória do Poder
Judiciário foi manchada para saciar o apetite vingativo de setores políticos.
Os profissionais responsáveis que atuam no Judiciário
terão muito trabalho para desfazer os equívocos legados por Barbosa. O resgate
da segurança jurídica do país exigirá que a aventura vingativa dos últimos anos
seja esquecida como um pesadelo que não pode se repetir.
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