Se alguém está mesmo preocupado com certa onda
golpista que avança no país, chegou o momento de agir.
Criando sites e publicações de análises e
denúncias. Promovendo seminários com personalidades jurídicas e acadêmicas.
Mobilizando setores da sociedade organizada, com debates em sindicatos,
movimentos sociais, agremiações estudantis. Disseminando grupos de estudo nas
universidades. Formando redes de militância junto a professores, artistas e
intelectuais.
A história de que o povo sairá às ruas em caso de
necessidade funciona como narrativa revolucionária, mas na vida real não vale
um tiro de festim. O país amanheceria quieto e aliviado, como em abril de 1964.
Mesmo na remota hipótese de alguma resistência pontual, ela seria esmagada cruelmente,
com respaldo nessa aura de legitimidade que emana dos poderes instituídos.
Havendo um golpe, as estruturas burocráticas e
repressivas do Estado imediatamente passariam a defender o grupo vitorioso. Do
desembargador ao guarda municipal, todos os agentes públicos estariam a serviço
da “autoridade em exercício”. E a mídia tradicional sufocaria a capacidade
mobilizadora da blogosfera progressista.
Aqueles que confiam na sublevação popular se
aferram à imagem de blindados nas ruas e generais de espada em riste. Essa
fantasia mostra como os profetas da ameaça estão despreparados para enfrentar a
única verdadeira possibilidade golpista: tropas de choque da PM portando
mandados judiciais, ministros do STF prendendo lideranças políticas, Ministério
Público, Polícia Federal e magistrados caçando adversários ideológicos.
A falta de medidas coordenadas para impedir uma
“virada de mesa” antidemocrática sugere que o risco não é levado realmente a
sério. Neste caso, talvez fosse mais produtivo aceitar a permanência inevitável do golpismo e discutir maneiras de lidar com esse desvio. Pois quando o
espírito antidemocrático se materializar em conquistas efetivas nas estruturas
do poder, será tarde demais para discursos libertários.
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