segunda-feira, 15 de junho de 2015

Liberdades não autorizadas

 

A festa midiática em torno da liberação das biografias faz parecer que seus defensores são baluartes cósmicos da liberdade de expressão. Nem tanto.

A causa prevaleceu no Supremo Tribunal Federal (e só foi votada agora) graças a uma campanha eficaz das entidades envolvidas na questão. Veículos noticiosos e editoras, principalmente, ansiosos por salvaguardas jurídicas para seus negócios.

Não se trata apenas de vender livros, nem mesmo de economizar com advogados. Há ainda a preocupação em abrir caminho para que qualquer material biográfico possa vir a público sem o veto prévio dos envolvidos. Podemos vislumbrar os desdobramentos político-eleitorais dessa prerrogativa.

Ninguém ali está muito preocupado em garantir liberdades. A Folha de São Paulo, por exemplo, recorreu à Justiça para calar um blog que a ironizava, sob o argumento de que os leitores poderiam (dã) confundir a sátira e o modelo real. E os desembargadores paulistas acataram a tese. Repito: desembargadores.

Então compreendemos a insistência em deixar que eventuais abusos sejam punidos posteriormente. O respaldo que certos interesses corporativos recebem das instâncias judiciais garante a virtual impunidade dos difamadores poderosos.

Nada disso reduz o mérito da pauta endossada pelo STF. É mesmo absurdo que ela precise de um endosso jurisprudencial em plena democracia. Mas precisamos lembrar que o tema não ganhou relevância por suas qualidades intrínsecas, e sim porque mobilizou determinados setores com particular influência no Judiciário.

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