Basta um pouco de discernimento para saber que as
peculiaridades políticas, históricas e econômicas tornam Brasil e Grécia incomparáveis.
Pois então o que leva alguém a anunciar que o país se aproxima do colapso
grego?
A questão pode ser apresentada de outra forma: no universo
de palpiteiros diletantes que discutem economia como se fosse trama de novela,
por que as previsões carregam um viés tão catastrofista, sem espaço para o
meio-termo, a dúvida, a probabilidade?
Não me refiro (apenas) ao hábito de criticar o pacote do governo federal sem oferecer soluções alternativas. O problema
central é usar o opinionismo de botequim para falsear a realidade, enganando o
público de forma deliberada e sistemática.
Esquadrinhando o ramerrão do pessimismo,
descobrimos apenas um mal disfarçado rancor antipetista. Ninguém quer discutir
economia com sensatez e base técnica, mas apenas culpar Dilma Rousseff e
Joaquim Levy por todos os males da nação.
Demissões, negativas de crédito, atrasos em obras
municipais e estaduais, falência de clubes de futebol, falta d’água,
desrespeito ao consumidor, não há problema localizado que os sabujos deixem de
jogar na conta do governo federal.
A esquizofrenia dos argumentos revela sua malícia.
Defensores do Estado mínimo cobram do Planalto uma solução mágica para as
dificuldades do setor privado. Reclamam dos gastos públicos e reclamam dos
cortes de gastos públicos. Anunciam o colapso da Previdência e se escandalizam
com as tentativas de saná-la.
Por isso a moda apocalíptica não prenuncia um
futuro plausível, mas um desejo. E aqui a tragédia vislumbrada é proporcional
ao temor do futuro positivo. Quanto pior o cenário da fantasia, maior será a
frustração dos oráculos, ainda que o resultado venha a ser apenas razoável.
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