segunda-feira, 29 de junho de 2015

Pessimismo desejoso

 












Basta um pouco de discernimento para saber que as peculiaridades políticas, históricas e econômicas tornam Brasil e Grécia incomparáveis. Pois então o que leva alguém a anunciar que o país se aproxima do colapso grego?

A questão pode ser apresentada de outra forma: no universo de palpiteiros diletantes que discutem economia como se fosse trama de novela, por que as previsões carregam um viés tão catastrofista, sem espaço para o meio-termo, a dúvida, a probabilidade?

Não me refiro (apenas) ao hábito de criticar o pacote do governo federal sem oferecer soluções alternativas. O problema central é usar o opinionismo de botequim para falsear a realidade, enganando o público de forma deliberada e sistemática.

Esquadrinhando o ramerrão do pessimismo, descobrimos apenas um mal disfarçado rancor antipetista. Ninguém quer discutir economia com sensatez e base técnica, mas apenas culpar Dilma Rousseff e Joaquim Levy por todos os males da nação.

Demissões, negativas de crédito, atrasos em obras municipais e estaduais, falência de clubes de futebol, falta d’água, desrespeito ao consumidor, não há problema localizado que os sabujos deixem de jogar na conta do governo federal.

A esquizofrenia dos argumentos revela sua malícia. Defensores do Estado mínimo cobram do Planalto uma solução mágica para as dificuldades do setor privado. Reclamam dos gastos públicos e reclamam dos cortes de gastos públicos. Anunciam o colapso da Previdência e se escandalizam com as tentativas de saná-la.

Por isso a moda apocalíptica não prenuncia um futuro plausível, mas um desejo. E aqui a tragédia vislumbrada é proporcional ao temor do futuro positivo. Quanto pior o cenário da fantasia, maior será a frustração dos oráculos, ainda que o resultado venha a ser apenas razoável.

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