segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Dilma Rousseff contra as almas sebosas


















Publicado no Brasil 247


Até aqui, o roteiro do impeachment seguiu a lógica previsível.

A iniciativa de Eduardo Cunha é consequência da pressão oportunista que ele sofreu do Judiciário, ávido para atingir os objetivos políticos da Lava Jato antes que o apuro dos tucanos esvazie a operação. A esquisita prisão de Delcídio Amaral deixou sinais de que as cortes já não conseguem lidar com a ansiedade dos bastidores investigativos.

Também o momento de prorrogação da crise obedece ao propósito original de manter o governo acuado, atingindo-o exatamente quando ele ameaçava recuperar alguma estabilidade. Por isso mesmo, recessos, “pedidos de vista” ou quaisquer adiamentos no desfecho da questão favorecem apenas o projeto reacionário.
                                                                                                    
As passeatas legalistas comprovarão seu papel decisivo no sepultamento do golpe. Nem tanto por causa da suposta resistência ao fato consumado, mas principalmente por anteciparem a força oposicionista que um novo governo enfrentaria. Esse aspecto será decisivo para o posicionamento do empresariado e do campo jurídico no embate.

O governismo agora precisa de união e iniciativa. Ambas se conquistam superando as desavenças com certa esquerda reticente e assumindo sem hesitações o pólo republicano da disputa. A mídia tentará descolar Cunha do processo para anular o antagonismo ético em jogo. Eis o ponto central da narrativa do impeachment.

Daí a importância de o Planalto não cair na armadilha de transformar Michel Temer em adversário direto. Ele é o representante ideal que o golpismo procura. Ao mesmo tempo, suas conspirações têm apelo restrito. O vice pode barganhar apenas um futuro incerto de crise e conturbação social. Dilma guarda poder efetivo, de materialização imediata.

Isso nos conduz ao fato de que a luta será decidida no Congresso Nacional. Ali não funciona brandir méritos jurídicos ou minúcias técnicas. A pressão sobre os parlamentares deve atingir os respectivos interesses nas eleições do ano que vem. Os candidatos e seus financiadores não querem passar 2016 justificando exonerações de correligionários e o apoio à chantagem de um notório contraventor.

Sabendo colocar-se como adversária da irresponsabilidade e da sordidez política, Dilma conseguirá ao menos preservar o cargo. Mas esta seria uma vitória frustrante, quase nula em médio prazo, se o governo continuar fraco e isolado. A luta abrange a preservação da agenda progressista endossada pelas urnas. O que temos adiante é o desfecho da campanha eleitoral mais longa e ruinosa de nossa história republicana.

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