Publicado
no Brasil 247
Analistas
da mídia empresarial aplaudem a condenação de Eduardo Azeredo. Segundo eles, a
esquerda já não tem motivo para reclamar da perseguição seletiva do Judiciário.
Bobagem
da grossa. Continua inexistindo qualquer equilíbrio no tratamento dado a
petistas e tucanos pelas cortes. O viés partidarizado manchou jurídica e
moralmente os últimos dez anos de combate à corrupção no país. Com danos irreversíveis.
As
manobras de Joaquim Barbosa para livrar o PSDB das execuções sumárias no STF
anularam as chances de algum membro da sigla ser de fato punido. Em termos
práticos, a tal “condenação” de Azeredo significa apenas ele passar o resto da
vida em liberdade, ou pouco menos que isso.
E é
caso único. Nenhum membro do PSDB foi sequer indiciado por décadas de cartel no
metrô paulista. A Lava Jato ignorou as origens da corrupção na Petrobrás para
poupar o governo FHC. Poderíamos seguir mencionando a privataria, as
sanguessugas, o Banestado, as contas suíças e assim por diante.
O
alívio da direita mostra que a sentença contra Azeredo faz parte de um roteiro
previsto, seguro e controlado. Figura emblemática do mensalão, sua derrota ao
mesmo tempo ameniza a percepção geral da impunidade tucana e é inócua o
suficiente para mantê-la inalterada.
Jamais
veremos líderes do PSDB conhecerem os rigores punitivos aplicados aos petistas.
Um José Serra passar anos no xilindró por “domínio do fato criminoso”. Um Aécio
Neves entrar algemado no camburão diante da imprensa televisiva. Um assessor de
Geraldo Alckmin sofrendo tortura psicológica para delatá-lo.
Em
circunstâncias menos assustadoras, isso apontaria para a inocência dos
personagens. Mas a questão tornou-se meramente especulativa, pois ninguém ousa
investigá-los de verdade, menos ainda com os abusos coercitivos de um Sérgio
“Berlusconi” Moro. Assim que o primeiro depoimento sigiloso vazasse incriminando
tucanos graúdos, o STF acabaria com a Lava Jato.
Então
descobrimos o círculo vicioso das hipóteses que cercam a supremacia judicial do
tucanato: a própria omissão do Ministério Público e dos magistrados dificulta mostrar
que todos se omitem. Quanto mais politizada e institucional é a crítica ao
Judiciário, mais partidária e corporativa é a sua reação.
A armadilha
do episódio Azeredo consiste em canalizar o revanchismo petista para uma
polêmica de rotos e esfarrapados, desviando as atenções do escandaloso viés
partidário das cortes. Este é o debate que urge, e não o constrangimento reversível
e tardio de uma figura já desmoralizada.
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