sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

“Demônio de neon”



Nicolas Winding Refn tem uma obra variada e complexa. É impossível reduzir os dramas realistas da trilogia “Pusher” e de “Drive”, os pesadelos sombrios de “Bronson”, “Medo X” e “Guerreiro silencioso” e as fábulas estilizadas de “Só Deus perdoa” e “Demônio de neon” a um mero fascínio visual pela violência.

David Lynch, Quentin Tarantino e Martin Scorsese são referências óbvias de seus trabalhos, principalmente os mais recentes, onde os estilos dos três se misturam. Parte da crítica torce o nariz para o diretor dinamarquês, contudo, talvez porque ele seja bom demais em mimetizar seus ídolos, atraindo o espectador para um cinismo que eles não ousam destilar.

Imagino que o universo imoral e ofensivo de “Demônio” provoque respostas variáveis, dependendo da experiência que se tem com aberrações cinematográficas. De minha parte, a demência dos personagens teve um impacto muito menor do que a beleza hipnótica da ambientação kitsch (ou seria camp?), levada a extremos pouco vistos na atualidade.

Em outras palavras, a fotografia de Natasha Braier (um espetáculo de iluminação captado em digital), a direção de arte de Austin Gorg e a música de Cliff Martinez valem o desconforto. E há também a crítica feroz ao universo da moda, à competividade feminina e à mercantilização do corpo na selva midiática. Tudo muito polêmico, etc., mas ninguém disse que o cinema precisa ser apenas seguro e confortável.

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