terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Dezessete (preguiça, desalento, vontades)



Antes que eu pudesse esboçar perspectivas, os primeiros fatos do ano vieram inviabilizá-las. Mesmo os desdobramentos das grandes emoções de 2016 já não parecem suficientes para anteciparmos as turbulências inevitáveis de 2018. Reféns da imprevisibilidade, atropelados por sobressaltos, flertamos com a desesperança.

Esse ambiente de susto e incerteza me apanha reflexivo, cheio de urgências, mudanças, riscos. Certa sensação de esgotamento dos modelos expressivos que vinha utilizando, mas também desejo de ampliar horizontes, buscar vias novas.

Um desamparo preguiçoso diante da selva de textões que saturam as redes digitais, alimentando miríades de bolhas discursivas indiferentes à controvérsia e ao debate. Uma desconfiança do intercâmbio algorítmico e da obsolescência que ele pretende impor a espaços digressivos fora dos seus cubículos de vidro.

Cansaço de novidades que reciclam velharias. De intelectual cínico. De esquerda que defende índio mas apoia meganhas e excelências. Da burrice orgulhosa de si mesma e da raiva que a incentiva. Do provincianismo barulhento, feio, doméstico. De velharias que inspiram falsas novidades.

O desejo de resgatar o viés subjetivo da página pessoal, ou melhor, de preservá-lo da traiçoeira sedução da ágora feicibuquiana. Um apego extemporâneo à ideia de autoria, como antídoto contra a suruba diletante virtual. Talvez apenas a impressão de que algo relevante se perde quando levo as coisas a sério demais.

A certeza do recomeço. Do passo seguinte que cada passo engendra. Essa ideia permanecerá latente: a necessidade da mudança. Ou seria a dura constatação de sua inevitabilidade?

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