quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Os defensores do TSE caíram na armadilha de Bolsonaro



O transporte e o armazenamento da estrutura de votação fornecem brechas oportunas ao impulso golpista. É mais fácil o bolsonarismo sabotar um processo vigiado por militares e policiais federais do que os funcionários civis fiscalizarem tamanho contingente.

Ocorre que TSE não se preparou para um cenário de ameaça efetiva. Esnobando os acadêmicos sérios que apontavam falhas no sistema digital, perdeu a interlocução crítica e qualificada que o forçaria a evoluir. Iludiu-se com os brilhos da unanimidade.

A rejeição do voto impresso deveria incentivar rigores que o substituíssem, mas os avanços foram superficiais. A amostragem de urnas selecionadas para controle, por exemplo, segue critérios estatísticos impróprios e tem escasso valor preventivo.

O fã-clube do TSE nem tomou conhecimento dos riscos. Preferiu repetir que os testes oficiais nunca apontaram problemas e que as fraudes são impossíveis porque ainda não ocorreram. Festejou o apoio dos diplomatas a um método que seus governos repudiam.

A mania de blefar em benefício da urna sinaliza que Jair Bolsonaro pautou esse debate. Ideologizando questões técnicas, conseguiu se livrar do cientificismo que seus inimigos usaram para desmascará-lo no auge da pandemia. Tornou-os negacionistas.

A obsessão com as narrativas de Bolsonaro naturalizou sua mentira central: a ideia de que a integridade do sufrágio depende apenas da “lisura” do TSE. Já que a hipótese de conluio do tribunal com o PT é absurda, a correta apuração dos votos está garantida.

Mas a confiança nas autoridades e os fenômenos materiais têm lógicas probabilísticas muito diversas. Embora o sucesso de um ataque ao sistema eleitoral seja duvidoso, a chance de correção dos seus danos é simplesmente zero. Não, boletins não servem.

Imaginemos que, ao término da votação, os códigos de uma urna revelem um comando capaz de transferir votos de Bolsonaro para Lula. Seria ridículo atribuir a manobra ao PT, mas não haveria meios tecnológicos, legais ou políticos de absolvê-lo.

Assim, os apologistas do TSE podem estar ajudando a produzir o clima da cassação da candidatura petista. Quanto maior a afinidade simbólica da oposição com o tribunal, maior o constrangimento imposto por uma fraude anônima que “ajudasse” Lula.

A esquerda subestima os efeitos de litígios na disputa presidencial. Foram os tribunais que engendraram o golpe fascista, com auxílio dessa mídia que não checa as auditorias que não auditam. No próprio TSE há ministros que seguem aplaudindo Sérgio Moro.

Mas é sobretudo o corporativismo que ameaça os planos progressistas. Nem a imprensa nem as cortes darão a Lula o benefício da dúvida, se para isso tiverem de expor uma vulnerabilidade qualquer do rito eletrônico. Muitas reputações graúdas estão em jogo.

Confundindo propaganda com certeza e republicanismo com autoengano, os democratas ajudam a manter o país vulnerável ao golpe. A transformação do TSE em protagonista da campanha dá a Bolsonaro o único oponente que ele consegue derrotar sem voto.

Nenhum comentário: