segunda-feira, 11 de junho de 2012

Mártir


De um ponto-de-vista exclusivamente pragmático, a escolha de Fernando Haddad para candidato em São Paulo soa compreensível. A rejeição de Marta Suplicy junto às classes média e alta diminuiria suas possibilidades num segundo turno acirrado. O apoio que ela recebe nos bairros mais pobres seria enfraquecido por Celso Russomano e Gabriel Chalita, concorrentes focados nessas regiões. As marcas administrativas da ex-prefeita, já um tanto neutralizadas pela gestão opaca no ministério do Turismo, poderiam também fornecer material difamatório à máquina de propaganda jornalística a serviço de José Serra.

Sabemos que às vezes o processo decisório da cúpula petista é questionável e desrespeitoso com parte da militância, mas no caso específico do PT paulista o debate precisaria mesmo tomar outros rumos. Quando uma força partidária dessa envergadura não consegue impedir vinte anos de mediocridade comandada pelos seus maiores adversários, no Estado mais populoso do país, torna-se imperativo mudar estratégias. Se algumas lideranças regionais do partido estão acomodadas a uma convivência amigável com a hegemonia demotucana e se as diversas facções internas relutam em concentrar esforços num projeto único de poder, não faz sentido permitir que esses grupos continuem dominando as costuras sucessórias da capital.

Os mesmos comentaristas da imprensa corporativa que destilaram e reproduziram toda sorte de preconceitos sobre Marta no passado agora a tratam como vítima. Querem mesmo é desgastá-la junto às bases lulistas e incentivar seu isolamento, arrancando um desabafo de última hora que aniquile de vez as chances da candidatura Haddad.

Mas não creio que ela venha a cair na armadilha. Pelo contrário, espero que ressurja no momento certo, depois de capitalizar os apoios midiáticos e valorizar o próprio cacife, declarando seu valioso apoio ao petista. Seria uma demonstração de altivez política, espírito público e fidelidade partidária que só lhe traria resultados positivos. Fechada no ressentimento, Marta faz o jogo da direita e arrisca-se a vestir o injusto figurino de responsável pela eventual derrota do PT.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mas Guilherme, essa rejeição toda da Marta por parte das classes média e alta, que existe de fato, não seria em boa parte atribuída ao próprio PT independente do candidato?..Não tenho dúvida que Haddad possa convencer alguns, mas acho que existe uma cultura anti-pt praticamente intacta entre essas classes paulistanas e toda essa conviência amigável de algumas lideranças regionais do partido seria nada mais nada menos que o reconhecimento disso, quase uma questão de sobrevivência numa cidade psdbista, ou anitpetista acima de tudo!Isso não muda a tentativa de uma mudança de estratégia, só não sei se muda essa cultura altamente consolidada!

Unknown disse...

Anônimo,
concordo que o antipetismo genérico preenche boa parte do fenômeno, mas não podemos esquecer os tremores que a biografia e a personalidade de Marta provocam nesse eleitorado historicamente conservador e machista. Acho que Haddad (com um/a vice bem escolhido/a) pode romper essa barreira.
Chegou a hora dos militantes questionarem se a omissão das lideranças é fruto do antipetismo reinante ou se é parte da suas origens.
Um abraço do
Guilherme