segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Por que votar em Dilma Rousseff






















Publicado num debate do Amálgama

O governo Dilma Rousseff é indissociável do programa político-partidário inaugurado na primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma elegeu-se canalizando o imenso respaldo público do antecessor para uma proposta inequívoca de continuidade. Sua nova candidatura parte do mesmo princípio e remete, portanto, ao trabalho iniciado em 2003. Por isso a opção pela presidenta, além de possuir fortes apelos biográficos, técnicos e éticos, também agrega o êxito do projeto nacional que ela personifica.

E não se trata de um sucesso qualquer. Todas as estatísticas relevantes de escopo federal melhoraram no ciclo petista. Mesmo quando não chega aos índices históricos da miséria e do desemprego, o viés evolutivo contempla setores díspares como ciência e tecnologia, produção cultural, infraestrutura, exportações, transportes, meio ambiente, educação, moradia, esporte, saúde, turismo, etc.

Seria ocioso realizar aqui levantamentos específicos de tamanha abrangência, mas eles estão disponíveis para averiguações. De qualquer maneira, um panorama abrangente pode ser obtido através dos Índices de Desenvolvimento Humano. Ali notamos que a melhoria da qualidade de vida do brasileiro teve uma guinada radical e inédita a partir de Lula, sem interrupção até o momento.

A imprensa oposicionista esforça-se para diluir as conquistas do período 2003-2014 em longas curvas históricas, que agreguem os anos FHC (1995-2002) e até os anteriores, como se fossem gestações das melhorias futuras. A eterna mitificação da “estabilidade monetária” que teria catapultado o lulismo alimenta a falácia de que o país vive há três décadas um processo homogêneo e inevitável de aprimoramento. Tudo isso para não admitir que o avanço brasileiro resulta exatamente das particularidades que diferenciam Lula e Dilma dos seus antagonistas.

Ocultar as distinções qualitativas das principais forças do cenário eleitoral é uma forma de validar o discurso oportunista que prega a mudança de governo sem esmiuçar as conseqüências dessa opção. Quando os maiores inimigos do protagonismo estatal admitem preservar os bem-sucedidos programas federais vigentes (Bolsa Família, PAC, Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos, Pronatec, Brasil Sem Miséria, entre tantos outros), eles querem minar o cerne identitário da trajetória petista, apropriando-se exatamente das marcas administrativas que justificam a sua manutenção.

O cerceamento das comparações também ajuda a amenizar o retrospecto negativo dos adversários da presidenta. Esquecendo as privatizações escandalosas, a compra de votos parlamentares, as máfias bilionárias, o apagão elétrico, o sucateamento infraestrutural e outras máculas da fase demo-tucana, o cidadão deixa de notar que jamais tiveram equivalentes, em porte e gravidade, nos governos Lula-Dilma.

É graças à amnésia coletiva acerca dos verdadeiros desastres administrativos do passado que se disseminam os factoides irrisórios destinados a provar uma suposta incapacidade gerencial de Dilma. A memória da torturante instabilidade vivida pelo país nos anos 1990 revelaria o viés manipulador dos diagnósticos sombrios atuais, baseados nos mesmos critérios que outrora serviam para incensar aquelas gestões econômicas e para relativizar nossos problemas diante das crises internacionais.

Ninguém precisa ser petista de carteirinha para rechaçar os projetos políticos que têm alguma chance de vencer Dilma. Primeiro porque escamoteiam uma essência neoliberal, privatista e elitizada incompatível com o modelo de inclusão social inaugurado por Lula. Segundo, e talvez mais importante, porque agregam forças conservadoras que impediriam os avanços legislativos necessários e levariam a graves retrocessos para os direitos individuais, a democratização dos bens culturais e educativos, a regulamentação da mídia, os movimentos populares, etc.

A ameaça está bem representada nos porta-vozes do antipetismo: os reacionários doentios da internet, os hipócritas da mídia corporativa, os terroristas do mercado financeiro, a grã-finagem demófoba, os moralistas fariseus que aplaudiram as execuções sumárias de Joaquim Barbosa enquanto ele presenteava os mensaleiros tucanos com a impunidade certa. É inconcebível que tais espectros ideológicos usufruam os enormes benefícios políticos do pré-sal, dos Jogos Olímpicos, da infraestrutura dos transportes, das novas reservas elétricas e de todas as melhorias sociais construídas por Lula e Dilma.

Entre as plataformas viáveis da corrida eleitoral, a defendida por Dilma é a única de caráter verdadeiramente progressista. A campanha de Marina Silva afasta-se dessa linha já nos perfis de seus assessores mais próximos, egressos do grande capital e do tucanato arrependido. Ela própria expressa valores típicos do conservadorismo, que preenchem a vaziez programática da Rede com um incômodo ranço personalista.

Ademais, a falta de base partidária forçaria um eventual governo Marina a aliar-se com a direita parlamentar (PSDB, DEM, PPS, Solidariedade, PSD), especialmente se o apoio desta for decisivo no segundo turno. Administração neófita, liderada por figura de reconhecida incapacidade aglutinadora, a aventura da “terceira via” tende a virar um mal disfarçado regresso dos interesses que orbitam ao redor de Aécio Neves, José Serra, Agripino Maia, Roberto Freire e assemelhados.

Resumindo, o voto em Dilma Rousseff tem duas sólidas justificativas complementares. A de viés positivo baseia-se no fato de que a reeleição permitirá a continuidade do ciclo administrativo mais bem-sucedido da história democrática brasileira. A de viés negativo nasce da rejeição aos seus adversários, que ameaçam os avanços petistas e acenam para o retorno de um programa nefasto, já amplamente desaprovado pela população.

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