É tristemente sintomático da natureza ideológica
da imprensa brasileira que o “escândalo boca-de-urna” tenha se transformado num
hábito previsível. Não apenas esperávamos o surgimento da bomba midiática, mas
também conhecíamos dela a natureza e a dinâmica de propagação: um relato na
Veja, baseado em terceiros, que os outros veículos tomam por fidedigno,
reproduzindo-o sem rigores apurativos.
Talvez por isso a tal “reportagem” da revista
ganhe aspecto meio anedótico, diluindo a gravidade do episódio. Mas é
importante não subestimá-la. A Veja faz acusações gravíssimas a personalidades
públicas, sem apresentar provas, utilizando seu poderio financeiro e logístico
para prejudicar adversários políticos nas eleições.
A matéria da Veja não seria aceitável sequer em
regimes jurídicos onde o direito à manifestação tivesse amplo e soberano resguardo. Porque não se trata de juízo, versão ou testemunho obtido de maneira
legal. É imputação criminosa, com danos irreparáveis à imagem das vítimas, tendo
em vista que a proximidade do pleito impediria o trânsito em julgado de
qualquer ação reparatória.
O que Veja fez é, no mínimo, crime eleitoral. Os
veículos que a repercutem são seus cúmplices. E a omissão do Judiciário é um
gesto político.
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