Certos meios intelectualizados articulam discursos
sobre a maldade petista usando uma espécie de perplexidade cívica para
disfarçar os sintomas da ressaca eleitoral. Ao contrário dos debates biliosos
do ressentimento derrotado, porém, essas manifestações merecem contrapontos
imediatos, antes que seus veredictos pretensamente apartidários criem narrativas
hegemônicas em torno das últimas eleições.
No artigo “A conveniência da palavra ódio”, Beatriz
Bracher parte do pressuposto de que as estratégias da campanha de Dilma
Rousseff foram excessivas, trapaceiras, imorais. O uso de perguntas retóricas
exime a autora de fazer acusações diretas, mas restringe o espaço da dúvida ao
mínimo. Aceitando seu raciocínio silogístico, o leitor se convence de que o PT rompeu
os limites “aceitáveis” para vencer.
Ora, o mesmo jogo de insinuações serviria para
inverter o sentido dos questionamentos. “Não
pode ser considerado normal” a mídia acusar a presidenta de criminosa a dois dias do pleito. “Ou pode? É um
excesso aceitável?” Quem divulgou que o doleiro preso havia
morrido? “É legítimo? É punível pela lei atual? Por que não foi investigado?”
Se queremos resgatar “a civilidade da nossa democracia”,
tenhamos então a idoneidade e a coragem de abordar as atuações da imprensa e do Judiciário na campanha. Esses âmbitos são fundamentais para estabelecermos o
sistema de valores que norteará a disputa. É no campo institucional que nasce o
vale-tudo das eleições brasileiras.
Existem muitas ferramentas para “retirar a
legitimidade da crítica”. O estigma do ódio alheio é uma delas. Mas a
apropriação do conceito de democracia pelos oposicionistas indignados soa
igualmente mistificadora. Parece apenas um pretexto chique e ilustrado para desqualificar
adversários e alimentar revanchismos estéreis.
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