Publicado em Brasil 247
As prisões dos executivos de grandes empresas servem
para abafar as denúncias contra a atuação tendenciosa da Polícia Federal na
Operação Lava Jato. A pirotecnia do gesto é proporcional à gravidade da
suspeita: o partidarismo explícito dos delegados na campanha
eleitoral sugere cumplicidade com a atuação criminosa da revista Veja às
vésperas do segundo turno.
Ainda que a operação estivesse sendo organizada há
tempos, seu oportunismo e sua teatralidade são inegáveis e sintomáticos. Atingir
grandes empresas não garante o rigor ou a imparcialidade de qualquer
procedimento jurídico. Os mandados foram expedidos pelo mesmo juiz que permitiu
os vazamentos seletivos das delações dos bandidos em plena disputa
presidencial. Só isso coloca toda a investigação em cheque.
Independente de culpas reais e apelos pedagógicos,
as prisões parecem desnecessárias e até meio abusivas, como se fossem armadas
para resultar juridicamente nulas. Lembram episódios recentes, quando irregularidades
técnicas serviram para inutilizar as acusações nas instâncias superiores. Os
investigadores “erram” nos detalhes e posam de inimigos do crime; os bacanas passam
um aperto ligeiro e alguém depois arquiva tudo.
É tolice, portanto, fazer da Lava Jato um modelo
de justiciamento dos “poderosos”. Os inesgotáveis trâmites processuais do caso
sequer começaram. Uma ideia do que vem pela frente pode ser obtida nos
inquéritos envolvendo os mensaleiros do PSDB. Quando Joaquim Barbosa
dispersou-os pelas catacumbas das varas regionais, também se falava em “passar
o país a limpo”.
A corrupção sempre possui diversas ramificações e
desdobramentos. É fácil imaginar uma rede de contatos unindo a Petrobrás e o
Palácio dos Bandeirantes, por exemplo. Mas nenhum juiz paulista ousará averiguar
os contratos bilionários que essas empreiteiras mantêm com a administração
tucana de São Paulo. As morosas e secretas apurações sobre a máfia dos cartéis fornecem exemplo suficiente de que o moralismo do Judiciário só
desperta quando há conveniência política.
O tal doleiro bandido possui laços antigos e notórios com figuras do PSDB e do DEM, mas o vínculo, embora tenha
provocado o início das apurações, foi esquecido assim que a Petrobrás surgiu na
história. Por que os únicos elos investigados sobre o vasto esquema criminoso
são os que envolvem o PT e seus aliados?
A tentativa do governo Dilma Rousseff de
aproveitar a boa recepção da Lava Jato é compreensível, tendo em vista a
hipocrisia generalizada e o histórico de engavetamentos de seus antecessores.
Mas a natureza partidária da operação recomenda prudência. Basta que um
ministro do STF incorpore o encosto imperial deixado por Joaquim Barbosa e
podemos ter a presidenta metida numa farsa golpista que o PT aplaudiu como se
fosse obra sua.
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