Ao longo de quinze meses, Luiz Bras publicou uma enquete na sua coluna do suplemento literário Rascunho. No último minuto da prorrogação tive a honra de participar da série. A pergunta central, dirigida a escritores, editores e acadêmicos, era a seguinte: "Tendo em vista a quantidade de livros publicados e a qualidade da prosa e da poesia brasileiras contemporâneas, em sua opinião, a literatura brasileira está num momento bom, mediano ou ruim?"
Sob a perspectiva de um autor que o observa da
margem (e não sem algum ressentido ceticismo), o circuito midiático da
literatura brasileira parece medíocre, condescendente e previsível. A monotonia
temática, o narcisismo obsessivo, a diluição dos cânones, a pobreza dos
enredos, a covardia política e o desleixo narrativo marcam boa parte dos
títulos adotados pelas esferas privilegiadas do campo literário.
A banalidade norteia as dinâmicas legitimadoras do
mercado porque elas são baseadas em relações interpessoais e corporativas. A
escolha do original pela editora, a entrevista, o convite para a feira, a
resenha do suplemento, o conto ou o poema ali publicado, a seleção pelos
jurados de um concurso: quase todos os pequenos sucessos que formam a reputação
literária passam por alguma teia de apadrinhamento. O fenômeno não deixa de
existir só porque, na maioria das vezes, é automático e inconsciente; nem por
ser talvez inevitável, num ambiente saturado de concorrência e falto de
oportunidades.
O predomínio da influência empobrece os critérios avaliativos do meio, acomodando-o à ilusão de que
as obras reconhecidas são de fato as melhores de seu tempo, ou de que
conquistaram apreciação por méritos intrínsecos. O padrão hegemônico no chamado
mainstream vira referência do que é a
“boa” literatura contemporânea, justificando o anonimato da multidão sem
colegas nem contratos. Então o círculo de reconhecimento se fecha no já aceito
e influente, preservando-o ao infinito.
Enquanto isso, na periferia do sistema, os desconhecidos
vagueiam entre nichos, tribos e seitas, gastando saúde, tempo e dinheiro em
obras que ninguém lerá. Iludidos pela falsa popularidade da internet e por
esporádicos aplausos nos convescotes provincianos, jamais terão sequer uma
ideia de seu real valor. Mas continuam alimentando a mitologia de uma
efervescência literária da qual permanecerão inexoravelmente excluídos.
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