Quando nasceu a ideia de tornar Geraldo Alckmin vice de Lula, diziam que era uma jogada para tirar o ex-governador da disputa em São Paulo. Parecia engenhoso, mas logo soubemos que, antes do convite, sua candidatura já não tinha espaço no PSDB.
Então surgiu a desculpa de que Alckmin ajudaria Lula a vencer no primeiro turno. Sem respaldo estatístico, o anúncio gerou ceticismo até nos defensores do arranjo. E eles se apressaram a ponderar que não, o ganho não seria propriamente em votos.
O benefício, afirmaram a seguir, residiria na tal governabilidade. De novo, porém, não há evidências de que Alckmin possui prestígio suficiente na classe política para lidar com uma tarefa tão árdua e complexa. Sua antiga base partidária está em frangalhos.
Agora o livram do fardo, talvez para livrá-lo também de críticas individuais. Alckmin doravante significa um grupo, a resistência democrática ao possível golpe bolsonarista. É o clube dos magnânimos fiadores do processo eleitoral e mesmo da posse de Lula.
Enquanto houver prioridades legítimas na agenda petista, Alckmin será seu viabilizador potencial. Não importa como. O hábito de substituir respostas práticas por aforismos (“um passo atrás, dois à frente”) blinda a escolha contra verificações objetivas.
Não há necessidade de inventar correntes progressistas da Opus Dei para Alckmin. Seu nome virou a antítese natural dos riscos que ameaçam a campanha e o futuro governo. Ao questionarem a solução, os céticos são tratados como se duvidassem dos problemas.
A inflação de expectativas em torno de Alckmin produz mensagens temerárias. Quem ousar contrariá-lo ajudará os fascistas. A coerência programática da esquerda impede a “reconstrução do país”. Lula precisa da direita para não merecer um (novo) golpe.
Eis o paradoxo da salvação frenteamplista: a causa nobre demanda sacrifícios do PT, mas não obriga os aliados a abdicarem de exigi-los. O espírito republicano de Lula se manifesta em concessões; o da direita, no soberano aval às concessões alheias.
A falta de reciprocidade arruína o valor pragmático em ter Alckmin como vice. O gesto, unilateral, não recebeu qualquer garantia de contrapartida para além daquelas que tendem a resultar da força política de Lula e de suas alianças partidárias.
Pragmatismo de verdade seria Alckmin concorrer a deputado federal, puxando votos para ampliar as vagas da coligação governista. Depois, ocupar a Presidência da Câmara ou um ministério. Solução mais prudente e eficaz do que torná-lo sucessor de Lula.
Os ganhos certos dessa alternativa superam qualquer prognóstico desejoso inventado para o idílio salvacionista. O cargo de vice reduz o útil apoio de Alckmin a um erro tolo, cujo fracasso é consumado de antemão, pelas vantagens potenciais que desperdiça.
Haveria mais do que símbolos e esperanças a debater, portanto, se a chapa de Lula fosse avaliada segundo uma estratégia técnica e profissional. Na obstrução dessa abordagem percebemos de onde parte o verdadeiro sectarismo que atrapalha a campanha.
Então surgiu a desculpa de que Alckmin ajudaria Lula a vencer no primeiro turno. Sem respaldo estatístico, o anúncio gerou ceticismo até nos defensores do arranjo. E eles se apressaram a ponderar que não, o ganho não seria propriamente em votos.
O benefício, afirmaram a seguir, residiria na tal governabilidade. De novo, porém, não há evidências de que Alckmin possui prestígio suficiente na classe política para lidar com uma tarefa tão árdua e complexa. Sua antiga base partidária está em frangalhos.
Agora o livram do fardo, talvez para livrá-lo também de críticas individuais. Alckmin doravante significa um grupo, a resistência democrática ao possível golpe bolsonarista. É o clube dos magnânimos fiadores do processo eleitoral e mesmo da posse de Lula.
Enquanto houver prioridades legítimas na agenda petista, Alckmin será seu viabilizador potencial. Não importa como. O hábito de substituir respostas práticas por aforismos (“um passo atrás, dois à frente”) blinda a escolha contra verificações objetivas.
Não há necessidade de inventar correntes progressistas da Opus Dei para Alckmin. Seu nome virou a antítese natural dos riscos que ameaçam a campanha e o futuro governo. Ao questionarem a solução, os céticos são tratados como se duvidassem dos problemas.
A inflação de expectativas em torno de Alckmin produz mensagens temerárias. Quem ousar contrariá-lo ajudará os fascistas. A coerência programática da esquerda impede a “reconstrução do país”. Lula precisa da direita para não merecer um (novo) golpe.
Eis o paradoxo da salvação frenteamplista: a causa nobre demanda sacrifícios do PT, mas não obriga os aliados a abdicarem de exigi-los. O espírito republicano de Lula se manifesta em concessões; o da direita, no soberano aval às concessões alheias.
A falta de reciprocidade arruína o valor pragmático em ter Alckmin como vice. O gesto, unilateral, não recebeu qualquer garantia de contrapartida para além daquelas que tendem a resultar da força política de Lula e de suas alianças partidárias.
Pragmatismo de verdade seria Alckmin concorrer a deputado federal, puxando votos para ampliar as vagas da coligação governista. Depois, ocupar a Presidência da Câmara ou um ministério. Solução mais prudente e eficaz do que torná-lo sucessor de Lula.
Os ganhos certos dessa alternativa superam qualquer prognóstico desejoso inventado para o idílio salvacionista. O cargo de vice reduz o útil apoio de Alckmin a um erro tolo, cujo fracasso é consumado de antemão, pelas vantagens potenciais que desperdiça.
Haveria mais do que símbolos e esperanças a debater, portanto, se a chapa de Lula fosse avaliada segundo uma estratégia técnica e profissional. Na obstrução dessa abordagem percebemos de onde parte o verdadeiro sectarismo que atrapalha a campanha.
Um comentário:
Brilhante sugestão de uma alternativa, mas... não seria preciso "combinar com os russos" antes?
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