segunda-feira, 29 de março de 2010

A blindagem de Serra


Publicado no especial "Eleições 2010" do Amálgama.

O PSDB está prestes a conquistar o quinto quadriênio sucessivo na administração estadual em São Paulo. Não terá dificuldades, a julgar pelas pesquisas. Seus possíveis adversários desconfiam das próprias chances e articulam as candidaturas como quem se submete a um nobre sacrifício.

O predomínio conservador no Estado remete aos arranjos oligárquicos da República Velha. Podemos arriscar uma genealogia de projetos de poder que parte do Partido Republicano Paulista, passa pelo Partido Social Progressista de Adhemar de Barros e pelo PMDB de Orestes Quércia (associado à herança do adhemarismo) e desemboca na cisão que originou o PSDB.

Os tucanos, dissidentes peemedebistas, mantiveram afinidades eleitorais com os antigos correligionários. Quércia foi vice-governador na gestão Franco Montoro e Aloysio Nunes Ferreira (atual chefe da Casa Civil de José Serra), de Luiz Antônio Fleury Filho. Tanto Fleury quanto Alda Marco Antônio, vice-prefeita da capital, são apadrinhados de Quércia, que costurou com Serra as alianças da gestão Gilberto Kassab (DEM). Portanto, considerando tratar-se da mesma linhagem política, são quase três décadas de continuidade ininterrupta, apenas na fase posterior à redemocratização.

Essa constatação causa duplo constrangimento. Primeiro, porque São Paulo acumula condições propícias para o desenvolvimento de uma esquerda competitiva. Os centros urbanos abrigam sindicatos de relevância nacional, inclusive os que serviram como base para o nascimento do PT. Imensos contingentes amargam um cotidiano de pobreza, subemprego e informalidade. Há militância estudantil atuante, diversas universidades, efervescência intelectual.

O segundo motivo de espanto nasce nas atribulações cotidianas. Pedágios de preços abusivos se espalham por todo o Estado, cercando os acessos às principais cidades. As polícias acumulam casos de banditismo e violências contra inocentes. O sistema carcerário mantém verdadeiros campos de concentração, inclusive nas instituições para menores infratores. O sucateamento histórico do ensino público foi agravado pela aprovação automática de alunos despreparados. As concessionárias de energia elétrica protagonizam apagões constantes. As bilionárias obras contra enchentes fracassaram de forma vexatória. Escândalos de corrupção adquirem relevância internacional. Crateras engolem pedestres, viadutos desabam.

Como é possível manter semelhante hegemonia em condições tão adversas, e ainda por cima durante o fenômeno da popularidade do presidente Lula?

Há alguns motivos de fácil percepção. As empresas jornalísticas paulistas possuem vínculos mais que ideológicos com o projeto conservador. Nos últimos anos, uma conveniente sucessão de episódios inviabilizou todos os quadros petistas capazes de ameaçá-lo. Deputados, prefeitos e demais lideranças oposicionistas são reféns das benesses do governo e de seus fornecedores – os quais, após décadas de usufruto dessa gigantesca máquina pública, controlam um estupendo rolo compressor eleitoral.

Mas o próprio Lula conseguiu superar, em âmbito nacional, o mesmo contexto desfavorável. Por trás do aparente paradoxo, sobressai uma calculada resignação da liderança petista diante daqueles obstáculos. Durante muito tempo a passividade refletiu os limites das aspirações da esquerda local. Já em tempos recentes pode ter servido para preservar um antagonista conveniente na disputa plebiscitária que interessa ao Planalto. O sucesso da estratégia determinará se o sacrifício dos paulistas teve alguma utilidade.

Também no especial "Eleições 2010": "Os silêncios de Serra"

3 comentários:

Anônimo disse...

Sei não...chego a pensar que pode haver fraude nas urnas eletrônicas de SP...

Anônimo disse...

Trinta anos comprando gato por lebre.Abr.Roberto.

francisco martins dos anjos filho disse...

é que paulista gosta de se f.........