quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Aécio é a nova Marina



















Publicado no Brasil 247

O exagero em torno da “surpreendente” votação de Aécio Neves amplifica o modesto triunfo de superar Marina Silva, candidata frágil e sem estrutura partidária. Também contribui para ofuscar a vexatória derrota do ex-governador em Minas Gerais.

Repetindo o “furacão Marina”, a grande imprensa agora constrói um Aécio de mitologia esportiva, lutador incansável e habilidoso que dribla obstáculos rumo ao pódio. Os discursos da superação e da virada substituem o da esperança novidadeira que há pouco dominava as referências à pessebista.

Com Aécio, os analistas voltam a supervalorizar a força da sua candidatura preferida. É o mesmo autoengano que fez de Marina a salvadora da oposição, dando-lhe um favoritismo ilusório que no final das contas só a prejudicou.

Os 33% do mineiro foram inesperados apenas sob a ótica das pesquisas. É o aporte histórico do oposicionismo nos anos petistas, que oscilou na direção de Marina e retornou a Aécio no embalo das definições estaduais, particularmente em São Paulo. O cenário atual parece o de 2006, quando Lula venceu José Serra com certa facilidade.

Há um desmesurado respeito pela dianteira paulista de Aécio. A vantagem de Dilma no Nordeste foi duas vezes maior. A base federal elegeu governadores em 10 estados, acumulando 15 milhões de votos que podem migrar dos vencedores para Dilma. O PSDB recebeu o mesmo contingente em São Paulo e no Paraná, mas só ganhou ali.

A estratégia petista acertou ao favorecer um segundo turno contra Aécio. Ele não é tão competitivo quanto Marina seria. A sombra dos anos FHC, o repertório escandaloso dos tucanos e os episódios constrangedores do próprio candidato fornecem um volume de material negativo que jamais teria equivalente na ex-senadora. Os vídeos em que Aécio figura, digamos, confuso, ilustram o tamanho do problema.

A polarização PT x PSDB favorece Dilma. Primeiro graças à comparação entre os governos federais de ambos os partidos. Segundo porque, neutralizado o cabo-de-guerra da corrupção, os tucanos são associados a plataformas impopulares (privatizações, desemprego, arrocho) que o eleitor repudia de forma quase inercial.

O apoio formal de Marina soa irrelevante. Nem mesmo as poucas centenas de sinceros adeptos da Rede migrarão para Aécio automaticamente. Boa parte da militância do PSB simpatiza com o lulismo ou repudia a herança do PSDB. Esse grupo é bem maior do que um terço dos votos que Marina recebeu, parcela suficiente para eleger Dilma.

Não se trata de amenizar as dificuldades do PT, mas de impedir que seus militantes incorporem o alarmismo da mídia tucana. Sabíamos desde o início que a disputa final seria acirrada, e contra esses adversários. A imprevisibilidade histérica é uma criação propagandística para moldar a campanha ao perfil de Aécio Neves.

O factoide sedutor da novidade ruiu com Marina e desmoronará também com Aécio. Basta a coordenação petista seguir o roteiro combativo das eleições passadas. Não há razão para pessimismo. Não, pelo menos, entre os adeptos de Dilma Rousseff.

2 comentários:

leonardo marques arnaldo disse...

É Verdade. e nossa imprensa já está se"queimando" com esse apoio exagerado em cima do Aecio. a Dilma será reeleita até com uma certa folga.e depois dos ataques do FHC aos Nordestinos,a situação ficará mais comoda pra Dilma!

Reinaldo \lamenza disse...

Bem escrito e lúcido. Bem verdadeiro. Cego é aquele que aceita esta situação esdrúxula da Marina e do hipócrita corrupto do Aécio. Minas Gerais que o diga.