A tentativa de atingir a candidatura Dilma
Rousseff com as investigações sobre a Petrobrás é escandalosa. Não há pretextos
éticos, informativos ou judiciais para a divulgação dos depoimentos de réus
confessos que influem numa campanha eleitoral e que só poderão ser confirmados
ou desmentidos após o fim da disputa.
O argumento de que o episódio ajuda a moralizar a
vida pública brasileira oscila entre a estupidez e o cinismo. Esse
ímpeto saneador atinge apenas os interesses do PT. Sequer arranha a estrutura
da corrupção generalizada, pois se resume a selecionar bodes expiatórios que
incriminem adversários políticos ocasionais em troca de penas brandas.
Aconteceu no julgamento do chamado mensalão. Sob a nefasta liderança de Joaquim Barbosa, o STF atropelou ritos e doutrinas
para condenar petistas, enquanto os acusados tucanos receberam benefícios
equivalentes à impunidade. Os fariseus aplaudiram o rigor dos ministros, mas
“esqueceram” a origem do esquema no reduto de Aécio Neves.
Os papéis que supostamente incriminariam José
Serra na máfia das Sanguessugas sumiram depois de aniquilarem a candidatura de
Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo. A mídia não ouviu os irmãos Vedoin, testemunhas-chaves daquele episódio, mas agora dedica espaço
nobre a Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef.
Tampouco houve espírito investigativo dos bravos
repórteres diante das denúncias do livro “A privataria tucana”, que
ligam o enriquecimento de familiares e amigos de Serra às vendas de estatais
pelo governo FHC. A obra contém documentos de acesso público, disponíveis aos
mesmos curiosos que hoje reverberam as bravatas de Costa e Youssef.
E por que ninguém assedia os envolvidos na máfia do metrô paulista, que vigorou por três governos do PSDB no estado? Como
explicar que o inquérito de apenas oito meses sobre a Petrobrás receba tamanho
destaque, mas os cartéis metroviários, conhecidos há pelo menos seis anos,
continuem secretos? Cuidado para não causar injustiças?
O viés partidário da imprensa corporativa e de
certos magistrados talvez seja inerente às suas atividades. Mas o uso do poder institucional
visando objetivos eleitorais tem a marca histórica do golpismo. Toda
ação antidemocrática nasce em organismos legítimos da sociedade e instrumentaliza
pautas republicanas para fins espúrios.
Os discursos que insuflam o antipetismo
(corrupção, baderna, aparelhamento) atualizam a propaganda anticomunista de
1964. Os mesmos veículos que na época aplaudiram os militares encabeçam a
histeria desmoralizadora contra o governo federal. Novamente com apoio de
setores do Judiciário, do capital financeiro, da classe média conservadora.
A preferência dessas forças autoritárias por Aécio
Neves confere sentido muito especial à luta para vencê-lo. E transforma seus
apoiadores em cúmplices do arbítrio, do cinismo e da manipulação que o favorecem.
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