terça-feira, 21 de outubro de 2014

Golpe eleitoral



















A tentativa de atingir a candidatura Dilma Rousseff com as investigações sobre a Petrobrás é escandalosa. Não há pretextos éticos, informativos ou judiciais para a divulgação dos depoimentos de réus confessos que influem numa campanha eleitoral e que só poderão ser confirmados ou desmentidos após o fim da disputa.

O argumento de que o episódio ajuda a moralizar a vida pública brasileira oscila entre a estupidez e o cinismo. Esse ímpeto saneador atinge apenas os interesses do PT. Sequer arranha a estrutura da corrupção generalizada, pois se resume a selecionar bodes expiatórios que incriminem adversários políticos ocasionais em troca de penas brandas.

Aconteceu no julgamento do chamado mensalão. Sob a nefasta liderança de Joaquim Barbosa, o STF atropelou ritos e doutrinas para condenar petistas, enquanto os acusados tucanos receberam benefícios equivalentes à impunidade. Os fariseus aplaudiram o rigor dos ministros, mas “esqueceram” a origem do esquema no reduto de Aécio Neves.

Os papéis que supostamente incriminariam José Serra na máfia das Sanguessugas sumiram depois de aniquilarem a candidatura de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo. A mídia não ouviu os irmãos Vedoin, testemunhas-chaves daquele episódio, mas agora dedica espaço nobre a Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef.

Tampouco houve espírito investigativo dos bravos repórteres diante das denúncias do livro “A privataria tucana”, que ligam o enriquecimento de familiares e amigos de Serra às vendas de estatais pelo governo FHC. A obra contém documentos de acesso público, disponíveis aos mesmos curiosos que hoje reverberam as bravatas de Costa e Youssef.

E por que ninguém assedia os envolvidos na máfia do metrô paulista, que vigorou por três governos do PSDB no estado? Como explicar que o inquérito de apenas oito meses sobre a Petrobrás receba tamanho destaque, mas os cartéis metroviários, conhecidos há pelo menos seis anos, continuem secretos? Cuidado para não causar injustiças?

O viés partidário da imprensa corporativa e de certos magistrados talvez seja inerente às suas atividades. Mas o uso do poder institucional visando objetivos eleitorais tem a marca histórica do golpismo. Toda ação antidemocrática nasce em organismos legítimos da sociedade e instrumentaliza pautas republicanas para fins espúrios.

Os discursos que insuflam o antipetismo (corrupção, baderna, aparelhamento) atualizam a propaganda anticomunista de 1964. Os mesmos veículos que na época aplaudiram os militares encabeçam a histeria desmoralizadora contra o governo federal. Novamente com apoio de setores do Judiciário, do capital financeiro, da classe média conservadora.

A preferência dessas forças autoritárias por Aécio Neves confere sentido muito especial à luta para vencê-lo. E transforma seus apoiadores em cúmplices do arbítrio, do cinismo e da manipulação que o favorecem.

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