quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O caráter de Aécio Neves

 

















Em 2009, Juca Kfouri afirmou que o então governador Aécio Neves teria agredido uma mulher no Rio de Janeiro. O jornal Hora do Povo repercutiu o caso em primeira página. A coluna de Joyce Pascowitch relatou o episódio, ocultando seus protagonistas.

Todos foram desmentidos, mas não houve recuos, tampouco investigações profundas. E Aécio reagiu de maneira um tanto acanhada, para alguém que processa jornalistas e blogueiros por divergências bem menos contundentes e objetivas.

Ele foi acusado de dar um tapa no rosto da sua acompanhante, numa festa de luxo, na presença de vários convidados, e ficou satisfeito com uma declaração à imprensa?

Qualquer inocente na mesma situação processaria os mentirosos. Com a influência e os recursos que tem, Aécio ganharia fácil uma ação judicial contra ilações desse teor. E reverteria o constrangimento posando de vítima indignada.
           
Sempre tive receio de abordar a vida íntima dos políticos. Os boatos sobre as supostas dependências químicas de Aécio, apesar da verossimilhança dos flagrantes, me parecem meio levianos. Estão muito próximos das apelações reducionistas que a própria direita usa para conquistar adeptos no farisaísmo generalizado.

Por outro lado, há certas prerrogativas da privacidade que deixam de valer para pessoas que escolheram a vida pública. Não acho que Aécio fugir do bafômetro seja irrelevante. Dirigir sob efeito de álcool ou com a carteira de habilitação vencida é atitude inaceitável para um senador.

Semelhante barreira moral deveria prevalecer contra sujeitos descontrolados e covardes que estapeiam mulheres. Por que não acontece? A sociedade brasileira é tão machista e permissiva que toleraria esse tipo de conduta num pretendente ao maior cargo executivo do país? O antipetismo suplanta qualquer limite civilizado?

Não se trata de simples questão doutrinária. Enquanto a corrupção domina os debates eleitorais, soa incoerente fazer vistas grossas para os repertórios de valores dos candidatos. Se o caráter de um indivíduo não tem importância, jamais deveríamos nos revoltar com as suas atitudes. Agressão física, diga-se de passagem, é crime.

Recusar essa discussão como “jogo sujo” ou “baixaria”soa desonesto e irresponsável. O problema da violência contra a mulher é grave demais para receber meras insinuações anedóticas ou para sucumbir à verborragia programática. O tema exige esclarecimento incontroverso, pouco importando o status e o poder dos envolvidos.

Diante do partidarismo da mídia, porém, resta-nos votar imaginando que os defeitos de Aécio não atingem esse nível. Pois a chance de termos um agressor de mulheres como presidente da República é tão revoltante que chegamos a torcer para que tudo não passe de uma fofoca irresponsável. 

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