Em 2009, Juca Kfouri afirmou que o então
governador Aécio Neves teria agredido uma mulher no Rio de Janeiro. O jornal
Hora do Povo repercutiu o caso em primeira página. A coluna de Joyce Pascowitch
relatou o episódio, ocultando seus protagonistas.
Todos foram desmentidos, mas não houve recuos, tampouco
investigações profundas. E Aécio reagiu de maneira um tanto acanhada, para
alguém que processa jornalistas e blogueiros por divergências bem menos contundentes
e objetivas.
Ele foi acusado de dar um tapa no rosto da sua
acompanhante, numa festa de luxo, na presença de vários convidados, e ficou
satisfeito com uma declaração à imprensa?
Qualquer inocente na mesma situação processaria os
mentirosos. Com a influência e os recursos que tem, Aécio ganharia fácil uma
ação judicial contra ilações desse teor. E reverteria o constrangimento posando
de vítima indignada.
Sempre tive receio de abordar a vida íntima dos
políticos. Os boatos sobre as supostas dependências químicas de Aécio, apesar
da verossimilhança dos flagrantes, me parecem meio levianos. Estão muito
próximos das apelações reducionistas que a própria direita usa para conquistar
adeptos no farisaísmo generalizado.
Por outro lado, há certas prerrogativas da
privacidade que deixam de valer para pessoas que escolheram a vida pública. Não
acho que Aécio fugir do bafômetro seja irrelevante. Dirigir sob efeito de
álcool ou com a carteira de habilitação vencida é atitude inaceitável para um senador.
Semelhante barreira moral deveria prevalecer
contra sujeitos descontrolados e covardes que estapeiam mulheres. Por que não
acontece? A sociedade brasileira é tão machista e permissiva que toleraria esse
tipo de conduta num pretendente ao maior cargo executivo do país? O antipetismo
suplanta qualquer limite civilizado?
Não se trata de simples questão doutrinária. Enquanto
a corrupção domina os debates eleitorais, soa incoerente fazer vistas grossas
para os repertórios de valores dos candidatos. Se o caráter de um indivíduo não
tem importância, jamais deveríamos nos revoltar com as suas atitudes. Agressão
física, diga-se de passagem, é crime.
Recusar essa discussão como “jogo sujo” ou “baixaria”soa desonesto e irresponsável. O problema da violência contra a mulher é grave
demais para receber meras insinuações anedóticas ou para sucumbir à verborragia
programática. O tema exige esclarecimento incontroverso, pouco importando o
status e o poder dos envolvidos.
Diante do partidarismo da mídia, porém, resta-nos votar
imaginando que os defeitos de Aécio não atingem esse nível. Pois a chance de
termos um agressor de mulheres como presidente da República é tão revoltante
que chegamos a torcer para que tudo não passe de uma fofoca irresponsável.
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