segunda-feira, 20 de agosto de 2018

O PT comanda o início da disputa sucessória



A força inicial da chapa Lula-Haddad transborda os limites simbólicos da “anticandidatura” de protesto. Sua competitividade irrefutável generalizou a expectativa de que as eleições serão decididas entre o lulismo e alguma fatia da direita. A avaliação tem base estatística e serve de referência (dissimulada) para os institutos, a mídia e as campanhas adversárias.

É ocioso questionar o pragmatismo eleitoral do PT. O registro de Lula como candidato segue um impulso coerente com a denúncia do caráter político da sua prisão, já induzida pela contínua liderança nas pesquisas que o partido agora tenta capitalizar. O escândalo em torno do imbróglio jurídico resultante será proporcional à viabilidade de ambos os objetivos.

A liminar do Comitê de Direitos Humanos da ONU, endossando a candidatura de Lula, teve efeitos que ultrapassaram a omissão da mídia local. O embaraço planetário rompeu a confortável bolha provinciana do conluio institucional que tenta destruir o lulismo. As reações toscas e irascíveis, típicas dos defensores das ditaduras, puseram o monstro numa briga que não se resolve com processos viciados e manipulação jornalística.

A afirmação de que Lula está “enganando” os eleitores reproduz o cinismo condenatório de seus algozes. Ele tem direito constitucional de pleitear o registro, além de amparo na jurisprudência para recorrer contra possível negativa. Só antecipa a decisão do TSE quem admite que a ideologia conduz os tribunais no seu caso.

Contrariando os palpites desejosos de catastrofistas e ressentidos, Fernando Haddad incorpora à chapa uma alternativa política renovadora que pode atrair o eleitorado incrédulo, dentro e fora da esquerda. Seu perfil atravessa os limites sociais e regionais que separam lulismo e antilulismo, ganhando vantagem num confronto eventual com a extrema direita.

A polarização da disputa servirá como teste para a sinceridade dos discursos contra o fantasma reacionário nos círculos ditos “progressistas” que negam o golpe e se enchem de rodeios adversativos para tratar da perseguição a Lula. Embora seja alvo previsível desses setores, a campanha de Lula-Haddad precisa tomá-los como fontes do voto útil que decidirá o embate final caso ele ocorra contra Geraldo Alckmin.

Aqui também notamos a eficácia dos planos petistas. Eles impuseram uma reconfiguração das suas vitórias eleitorais recentes, tiraram o PSDB do armário conservador e imprimiram caráter plebiscitário às disputas narrativas em torno do impeachment, submetendo seu respaldo popular ao teste das urnas. A ideia do “Golpão” era bem outra.

O quadro parece favorável para o PT, que pode chegar ao segundo turno com apenas metade dos votos lulistas e pequena parcela dos indecisos. Tendo a seu favor a gigantesca rejeição a Alckmin e asseclas, os arbítrios da Lava Jato e a força comparativa das administrações Lula. Enfrentando uma direita rachada, com excesso de proponentes que disputam o mesmo eleitorado e oscilam entre a maldição do governo Temer e a truculência antipática.

O êxito da candidatura petista depende de um plano de comunicação baseado na imagem do ex-presidente. Este será o foco das investidas do Regime de Exceção, através da censura do TSE às propagandas audiovisuais e do isolamento imposto pela carceragem curitibana. Como não há recurso jurídico possível sob o despotismo togado, a criatividade dos marqueteiros e a ação da militância despenharão papéis determinantes.

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