segunda-feira, 25 de julho de 2011

Marina à deriva



A festejada terceira via da imprensa corporativa transformou-se numa personagem solitária, sem cargo nem partido, vagando em busca de militância, estrutura, programa, enfim, das condições imprescindíveis para compor o mínimo projeto eleitoral. Esse vazio apenas comprova a fragilidade e o artificialismo inerentes ao “fenômeno Marina Silva”. E também revela a triste simplicidade do seu capital político, restrito a louvores biográficos, discursos moralistas e plataformas que, debaixo das aparências, relevam-se estranhas às reivindicações dos movimentos progressistas contemporâneos.

A defesa da tal “sonhática” é uma justificativa para evitar o jogo pesado da política profissional. Discutir utopias e revoluções inviáveis enriquece o ambiente democrático, mas não deixa de contribuir, por ineficácia ou omissão, para preservar o estado das coisas no mundo real do poder. E às vezes o quixotismo solitário esconde a intransigência, o culto à personalidade e certo grau de autoritarismo.

Mas o papel de purista arrependida não serve a Marina Silva. Sua candidatura presidencial foi usada pela estratégia demotucana de capturar os votos inerciais que levariam Dilma Rousseff à vitória no primeiro turno. É impossível acreditar que a ex-senadora ignorava o arranjo, no mínimo porque seu antigo PV coaduna há muito com os interesses do PSDB, e não apenas em São Paulo. Se topou a missão para robustecer a bancada verde no Congresso, Marina demonstra um maior senso de pragmatismo do que admite possuir. E não se diferencia tanto dos políticos malvados que de vez em quando repudia.

3 comentários:

Henrique disse...

"É impossível acreditar que a ex-senadora ignorava o arranjo, no mínimo porque seu antigo PV coaduna há muito com os interesses do PSDB, e não apenas em São Paulo."
...
assim como
...
É impossível dizer que na cabeça da Blá-Blá passava "o meio ambiente".

José bsb disse...

A grande mídia acalentou a candidatura da Marina somente para evitar a vitória antecipada da Dilma. A "onda" verde serviu apenas para empurrar o Serra ao segundo turno. O que de fato ocorreu, mas sem final feliz para os tucanos abortados nas urnas.

Vania disse...

Adorei! Em poucas palavras, você disse muito. Resumiu com perfeição as (piores) contradições dessa senhora, aspirante à presidência.
Valeu!